Brenda da Fonseca Em uma sociedade em constante busca por inclusão e igualdade, indivíduos inspiradores emergem, rompendo barreiras e empoderando comunidades inteiras. Rafael Monteiro da Silva, um carismático professor de 40 anos, é um desses indivíduos que dedicam sua vida a dar voz à comunidade surda através de duas poderosas formas de expressão: a interpretação da Língua Brasileira de Sinais (Libras), a ilustração e obras literárias. Nascido na cidade de Vitória, Espírito Santo, Rafael descobriu sua paixão pela Libras desde criança. Sempre teve gosto pela arte e até alguns desenhos publicados no extinto jornal infantil A Gazetinha. Quando cresceu, Rafael teve uma banda sem nome e nem logomarca, então se arriscou e fez uma identidade visual pela primeira vez. Deu certo e o gosto só aumentou pela modalidade. O professor já fez arte em diversas áreas, desde bandas até empresas. Fascinado pela linguagem visual e pela comunicação não verbal, ele se formou em pedagogia, fez pós-graduação em libras, segunda graduação em português e inglês e terminou o mestrado recentemente. Especializado como intérprete de Libras, se tornou um defensor dos direitos e da inclusão das pessoas surdas. Em 2017, começou sua jornada acadêmica como professor bilíngue de surdos pela Secretaria de Educação (Sedu) , preocupado em como andava a educação de crianças surdas, ele foi pessoalmente descobrir e investigar esse processo de interação direta com o aluno surdo. A partir daí, ganhou gosto por lecionar iniciando mais tarde a migração de área.. Além de sua atuação intensa como professor na Ufes e na UFRJ, ele tenta sempre continuar desenhando, mesmo com a carga horária em sala de aula bem puxada. Rafael sempre tem alguns serviços ligados a essa área e recentemente está se aventurando para escrever e ilustrar um livro autoral voltado para crianças surdas. Rafael encontrou uma forma única de conectar-se com a comunidade surda. Utilizando sua habilidade para a ilustração, ele dá vida às obras literárias tornando-as acessíveis aos surdos por meio de imagens expressivas e vibrantes. Seu objetivo é proporcionar uma experiência de leitura mais rica e significativa, abrindo portas para a imaginação e o conhecimento para aqueles que não têm acesso pleno à linguagem escrita. Ao concluir o mestrado em novembro de 2022, o produto para a sociedade que ele desenvolveu foi a tradução e adaptação de seis livros para o modelo de VideoBook. O intérprete construiu o site, um canal do YouTube e uma página do Instagram com o nome de @leialibros, e esse tem sido seu atual xodó. Através de seu trabalho, Rafael Monteiro tem ganhado reconhecimento tanto na comunidade surda quanto no campo da educação inclusiva. Seu trabalho sempre enfatiza a importância da inclusão e do acesso à educação para todos. Ele acredita que a ilustração e a Libras podem não apenas quebrar barreiras de comunicação, mas também estimular a criatividade e a empatia em todos os indivíduos. Seus trabalhos geram uma experiência inclusiva e enriquecedora para a comunidade surda. Para Rafael, seu trabalho vai além das palavras e dos traços. É uma forma de promover a igualdade e a inclusão em uma sociedade que muitas vezes negligencia as necessidades das pessoas surdas. Seu compromisso com a causa e seu espírito inovador têm feito dele um expoente no campo da educação inclusiva, e um exemplo de como a paixão pode mudar vidas. Com sua dedicação e talento, o ilustrador e professor está construindo um futuro mais inclusivo e acolhedor para a comunidade surda. Ele prova que a linguagem transcende as palavras e que a arte pode abrir portas para uma sociedade mais empática e igualitária. Sua jornada é uma inspiração para todos POST DOS LIVROS NESSES LINKS Tirinhas do SUPERMAO Tirinhas do SUPERMAO
O polêmico mergulhão
Obra estimada em R$77 milhões e prevista para durar três anos, enfrenta resistência da comunidade e questionamentos sobre diálogo e impactos ambientais. Filipe Turiri e Maria Luiza Favalessa Reprodução: PMV A construção do mergulhão no cruzamento das avenidas Dante Michelini e Norte-Sul, na orla de Jardim Camburi, em Vitória, está longe de ser unanimidade. Anunciada pela Prefeitura como a grande solução para os congestionamentos na região, a intervenção, prevista para começar ainda neste ano, tem gerado polêmica entre moradores e frequentadores do bairro. Com orçamento estimado em R$77 milhões e prazo de conclusão de três anos, o projeto prevê a construção de um túnel que eliminará semáforos e dará prioridade ao fluxo de veículos. A obra também prevê a instalação de uma passarela elevada para pedestres e ciclistas, equipada com rampas, escadas e mirantes com vista para a praia, uma substituição das atuais faixas de pedestres no cruzamento. Moradores reclamam de falta de diálogo Enquanto o poder público justifica o projeto, a comunidade se mobiliza, muitos afirmam que não foram devidamente consultados, e que as audiências públicas realizadas não atenderam às expectativas de debate. Um protesto realizado em julho no local denunciou a falta de escuta, alertando para os impactos ambientais e urbanísticos. O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) entrou em cena e realizou uma reunião com representantes da comunidade, da Prefeitura e de associações de bairro, cobrando esclarecimentos sobre os impactos da obra e verificando se o projeto respeita o Plano Diretor Urbano e as legislações ambientais. Foram feitas tentativas de contato com a Semob para obter posicionamento, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria.De acordo com uma matéria publicada no portal da Prefeitura de Vitória, o projeto do Mergulhão de Camburi foi novamente apresentado à comunidade em reuniões realizadas em março de 2025, sendo essa a terceira apresentação do empreendimento à população local, com amplo tempo destinado a questionamentos, os quais foram respondidos pelos secretários de Obras e Transportes, com apoio técnico de arquitetos da Prefeitura Obra avança em meio à polêmica Apesar da controvérsia, a Prefeitura mantém o cronograma. O canteiro de obras deve ser instalado até o fim do ano, com intervenções de drenagem e terraplanagem previstas para os primeiros meses de 2026. A entrega está estimada para o início de 2027. Enquanto isso, a mobilização dos moradores permanece forte, com promessas de novos protestos e debates.
Palestina sob invasão
O papel de Israel no genocídio palestino e as origens da guerra atual Opinião – Felipe Figueiredo Repudiar as ações de Israel contra a Palestina é repudiar um genocídio em massa e um apartheid que segrega um povo em função de um conflito político e territorial. Este conflito é movido pelo imperialismo e caracterizado pela promoção de uma limpeza étnica e um genocídio em massa que dura 79 anos. A história dessa disputa, contada por diversos estudos sobre o tema, começa muito antes da criação do Estado de Israel. Com a expansão do colonialismo e a derrota do Império Turco-Otomano pelos britânicos, ocorreu a divisão dos territórios turcos. Em 1923, surgiu o protetorado britânico na Palestina, exercendo controle sobre a área que hoje é Israel. A lógica de destituição do território dos povos originários, por parte do protetorado britânico, baseou-se em uma visão eugenista de inferioridade dos povos que ali viviam. A concepção de Israel, que muitos fantasiam ser uma “não-nação” com raízes bíblicas, na verdade, tem sua origem no berço do sionismo e foi moldada pela arbitrariedade inglesa, muito antes da Segunda Guerra Mundial. Esse processo deflagrou uma série de revoltas entre os países árabes, já que a criação de Israel representava a contraposição a toda e qualquer autonomia dos povos originários, promovendo bombardeios a escolas e hospitais, além de uma série de abusos contra o povo palestino. Israel limita o acesso a recursos básicos, segregando e humilhando inocentes na Palestina. Este conflito não é travado em pé de igualdade: os palestinos não possuem igual capacidade de resposta política e militar para enfrentar a guerra colonial israelense. O número de palestinos afetados é vastamente superior, como evidenciado em 2018, quando 31.558 palestinos foram mortos ou feridos, em contraste com 130 israelenses. Em outubro de 2023, Israel lançou mais uma ofensiva brutal contra Gaza, após ataques do Hamas. A resposta israelense foi desproporcional, resultando na morte de mais de 36 mil palestinos (a maioria civis, incluindo mais de 15 mil crianças), segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde de Gaza. Enquanto isso, Israel, financiado pelos Estados Unidos, continua a impor um bloqueio desumano a Gaza, limitando o acesso a água, energia elétrica, medicamentos e alimentos. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) decidiu, em janeiro de 2024, que Israel está cometendo atos que configuram genocídio, e ordenou medidas para evitar mais mortes de civis. No entanto, o governo de Benjamin Netanyahu ignorou a decisão e seguiu com os ataques, inclusive em Rafah, onde mais de 1,4 milhão de palestinos deslocados estavam refugiados. As ações de Israel na madrugada de 13 de junho, que incluíram ataques de grande proporção contra o Irã, basearam-se na alegação de que o Irã estaria próximo de desenvolver bombas atômicas e desrespeitando o acordo nuclear. Essa justificativa, contudo, é comparável à utilizada pelos EUA para invadir o Iraque em 2003, que se provou infundada. Essa mesma afirmação sobre o enriquecimento de urânio pelo Irã e a iminência de produzir bombas atômicas tem sido repetida por Netanyahu há 30 anos. O Irã, como um dos principais opositores de Israel no Oriente Médio, apoia grupos de resistência como o Hamas e o Hezbollah, mas isso não justifica a violência israelense. A retórica de Israel e dos EUA tenta pintar o Irã como um “Estado terrorista”, mas esconde o fato de que Israel é o maior violador de resoluções da ONU, com mais de 100 condenações por violações de direitos humanos. Além disso, Israel detém 90 ogivas nucleares, segundo a Federação dos Cientistas Americanos e o Instituto Internacional de Pesquisa para Paz de Estocolmo. Embora cristãos fundamentalistas comercializem falsas perspectivas a respeito das críticas erguidas contra Israel, estas não dizem respeito a uma ótica antissemita. O termo faz referência a uma ideologia que defende a opressão de povos de origem semita, como judeus, libaneses, palestinos, sírios, jordanianos e muitos outros. Já a teoria sionista liga nacionalidade, hereditariedade e religião, sendo uma ideologia colonialista que busca firmar-se num território por meio da dominação e da necropolítica. A história e as evidências atuais demonstram um padrão de violações sistemáticas, perpetuadas por uma ideologia colonialista e racista. É crucial posicionar-se contra essa política de expansão infundada e contra uma concepção de Israel que se mantém viva apenas em fantasias bíblicas de uma “não-nação”. Originada no berço do sionismo, Israel se utiliza dos horrores do Holocausto em seu benefício e como forma de chantagem, enquanto oculta a colaboração ativa do movimento sionista com o inimigo mais feroz que os judeus já tiveram. Isso não pode ser ignorado.
A difícil integração de negros e filhos de imigrantes em esportes na Europa
Casos de racismo e xenofobia contra descendentes de africanos ainda são frequentes; o passado imperialista da Europa pode ajudar a entender as origens do preconceito. Quando a seleção portuguesa venceu a Itália pela Eurocopa sub-17, em maio deste ano, e seguiu para se tornar a campeã do torneio, um episódio transformou as redes sociais num campo de batalha. Logo após a vitória contra a azzurra, uma foto da seleção portuguesa onde havia apenas jogadores negros foi publicada no instagram da seleção. Isso gerou revolta por parte dos portugueses na internet, alegando que a seleção “parecia africana”. Os comentários ofensivos foram ocultados do perfil para evitar uma maior retaliação aos atletas. Mas, diferentemente do que parte dos internautas alegaram, nenhum dos jogadores que entraram em campo naquela semifinal nasceu em um país da África. Aquele que, de fato, nasceu em solo africano foi Eusébio, considerado um dos melhores jogadores da história e responsável por colocar Portugal no radar europeu na década de 1960. Esse problema não é novidade em solo europeu. Na década de 1990, a seleção francesa de futebol viveu uma espécie de Guerra Fria contra a Frente Nacional (antigo Reagrupamento Nacional), o partido de extrema-direita do país. A geração black-blanc-beur (ou negra-branca-árabe, em francês) se destacava no futebol europeu da época por sua alta miscigenação e pelo salto de qualidade nos resultados. Isso desagradou a extrema-direita francesa, que muito se orgulhava das seleções nacionais do passado. De acordo com Maria Cristina Dadalto, professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), especialista em estudos de imigração, este problema surge a partir do sentimento de “colonizador” que ainda persiste na população européia. “É uma população mobilizada pela raiva e pelo ressentimento de quem é entre aspas ‘menor do que você’ ter conseguido atingir um sucesso que o meu filhinho que é branquinho de olhos azuis, loiro e lindo não consegue”, explicou. Em 1996, um dia antes do confronto entre França e República Tcheca pela semifinal da Eurocopa, veio à público a fonte do ódio à seleção miscigenada: Jean Marie Le Pen, então líder da Frente Nacional, afirmou seu descontentamento com a seleção “artificial” que representava a França. No dia do jogo, 0 a 0 no tempo regulamentar e 6 a 5 para os tchecos nas cobranças de pênalti. França eliminada. Apesar da constante perseguição aos jogadores por suas ascendências, foi neste mesmo ambiente miscigenado que cada coração francês vibrou com a conquista da primeira taça da Copa do Mundo. Vinte anos depois, o segundo título, mas com a mesma onda racista e xenófoba. Ao longo dos anos, muitos movimentos tentam descredibilizar os atletas, criando a narrativa de que os mesmos seriam naturalizados, ou seja, jogariam pelo país por acordos políticos e não pelo pertencimento àquela cultura. Outra vez, a narrativa não encontra seus fundamentos, uma vez que a grande maioria dos que defendem o azul francês nasceram dentro do país. A questão francesa joga luz sobre outro problema em solo europeu: a crise imigratória. São milhares de civis que chegam pelas fronteiras e tentam a sorte na Europa. Boa parte chega alí fugindo da guerra em seu país, especialmente os da África, que vivencia até hoje as consequências do imperialismo e da divisão arbitrária dos territórios no continente. A Europa agora também encara o desdobrar do que fez há mais de um século. O PASSADO Dos 54 países da África, 52 encararam o avanço da Europa sobre as terras que os pertenciam. Falamos aqui do início do século XX e da repartição arbitrária destes territórios para Bélgica, Reino Unido, Portugal etc. “A Europa colonizou o mundo. A América Latina, a Central… as Américas e também os países africanos. E qual é a visão de um colonizador? A visão do colonizador é que você é submisso a ele o tempo todo. Ele é superior a você”, comenta Dadalto Esta visão de superioridade foi o que balizou todo o domínio Europeu sobre o continente. A partir das divisões forçadas das terras, estava o problema da divisão étnica, onde um mesmo grupo poderia estar fragmentado entre dois países e/ou junto de outra etnia que possuía atritos. A base da configuração geopolítica africana permanece a mesma há pelo menos meio século. Mas durante esse tempo, inúmeras guerras tiraram o sono dos civis no continente, potencializados pelas interferências europeias. Em material publicado pelo Podcast Copa Além da Copa, as questões históricas e sociais que reverberam no território africano são explicadas: a Bélgica estabeleceu no Congo uma colônia privada, o Império Britânico (atual Reino Unido) na região da África Ocidental até a Oriental e Portugal nos litorais, iniciando uma era de opressão dos cidadãos da África e exploração de seus recursos naturais. Ainda hoje, países da região lutam para reaver peças de arte que foram roubadas durante a colonização. Os longos conflitos étnicos levaram à criação de grupos armados e consolidaram uma série de guerras no território. A insegurança na região motivou e ainda motiva dezenas de famílias a fugirem de suas casas e tentar a sorte em outros países. Em muitos casos, o racismo deste período é mascarado em tons recreativos, sob o pretexto de ser apenas uma piada. É o que acontece com o personagem Tintim, criado pelo quadrinista belga Hergé em 1929, por exemplo. No contexto da colonização violenta do Congo, surge em 1931 o quadrinho “Tintim na África”. Nesta história em quadrinhos (HQ), Hergé retrata os congoleses como estúpidos e preguiçosos. Os traços grosseiros das personagens muito se assemelham à prática do blackface, maquiagem feita por atores e atrizes brancas para interpretar uma personagem negra. Ainda nesta HQ, Tintim ensina aos moradores sobre a “pátria belga”, como uma catequese aos indígenas. Questionado em 1975 sobre o contexto racista em sua obra, Hergé se defendeu dizendo que baseou os congoleses no que “ouvia falar” e apoiado pelo “espírito paternalista que prevalecia na época”. ATUALIDADE Em 2024, outro caso de agressão racista ocorreu, desta vez envolvendo a considerada melhor jogadora de vôlei da Itália: Paola Egonu. Campeã olímpica em
Reportagem Fotográfica: Esperança em Vila Esperança
Eduarda Fernandes A comunidade de Vila Esperança, em Vila Velha, nasceu em 2016 como um projeto para garantia de moradia digna e combate aos altos custos dos alugueis de imóveis. Desde então, os moradores constroem casas, planejam ruas, criam vínculos comunitários e trabalham para que o local seja um espaço não somente de moradia, mas também de prosperidade social. Houve diversas tentativas de expulsão da população de Vila Esperança, movidas por escancarados interesses industriais e imobiliários. A Prefeitura de Vila Velha ainda apresenta resistência para reconhecer a região como bairro oficial. Vila Esperança conta apenas com o que a comunidade foi capaz de construir. Sem saneamento básico, rede elétrica e transporte público a permanência no território é somente um dos diversos obstáculos a serem superados. Mesmo diante de um cenário nebuloso, 800 famílias persistem na luta pelos seus lares. A comunidade se mantém unida na esperança de um futuro digno. Segundo Adriana Paranhos (também conhecida como Baiana), coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e Presidente da Ocupação Vila Esperança: “As crianças de hoje são o futuro da cidade, do amanhã. A gente continua batendo na mesma tecla, o direito de moradia e o direito também de viver com dignidade que não estão tendo. Nós não temos água, não temos acesso a energia. Tudo o que nós temos aqui hoje é improvisado, feito pelas nossas próprias mãos.” Fotografia: Eduarda Fernandes
Infância digital: quando a brincadeira é ganhar milhares de views
Em um cenário onde um terço dos usuários da internet são crianças, o carisma infantil vira matéria-prima para um novo mercado, movido a publicidade, contratos e a busca incessante por engajamento. Eduarda Fernandes As novas gerações parecem já nascer programadas para a vida digital, imersas em um universo onde as telas são extensões de suas vivências. Não é exagero afirmar que parte significativa da infância atual ocorre de forma online, um cenário comprovado por dados de 2023 do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef): um em cada três usuários da internet é criança. Em paralelo, a criação de conteúdo em redes sociais viralizou e tem produzido um volume exponencial de influenciadores, profissão predominantemente adulta mas que hoje já alcança massivamente o público infantil. Em alguns casos, essa produção de conteúdo ocorre de forma orgânica e natural, como uma genuína brincadeira que reflete os desejos e a individualidade da criança, tendo como principal propósito promover o entretenimento e a conexão entre pequenos de todo o país – e, por vezes, do mundo. “O brincar é muito importante para o aprendizado da criança, se tornando uma ação capaz de reproduzir a sua vivência diante da brincadeira, possibilitando o processo de sua aprendizagem, facilitando o aperfeiçoamento da criatividade, constituindo desta forma a assimilação entre o brincar e a aprendizagem.” destaca Lacir Mendonça Trombini em sua monografia para conclusão de sua especialização em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2012. Os influenciadores mirins cativaram a internet e desde então realizam publicidades, cumprem contratos e alcançam números elevados de seguidores a partir da expressão do carisma e espontaneidade característica do ser criança. Embora a digitalização na infância ofereça inegáveis benefícios educativos e comunicacionais, como ferramenta de auxílio na aprendizagem, no desenvolvimento da fala e socialização da criança – segundo uma pesquisa realizada por estudantes de Psicologia da Universidade de Gurupi em Tocantins – é preciso ter cautela para a exposição online dos pequenos. Diretrizes do ECA Se para adultos, o mundo virtual já apresenta perigos latentes ao bem-estar e saúde mental do indivíduo, quando incluímos a vulnerabilidade do público infantil é necessário que a busca pela segurança digital seja constante. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) detém diretrizes essenciais para entender os direitos próprios da infância. Aplicados ao contexto virtual, é possível perceber como a expressão artística online se transformou numa categoria laboral. Conforme artigos acadêmicos, pesquisas científicas e projetos de lei como o PL 2.259/2022 que busca estabelecer regras para o exercício da atividade de influenciador digital mirim, é evidente que essa nova modalidade necessita de urgente regulamentação. O Art. 149 do ECA exige autorização judicial para trabalho artístico, mas ainda surgem divergências sobre a inclusão dos influenciadores mirins neste grupo. A discussão ainda está tramitando por Tribunais do Trabalho, Câmara de Vereadores e demais instâncias que permitirão encaixar a classe de influenciadores mirins nos contextos trabalhistas para fins artísticos, demandando um alvará para futuras crianças e adolescentes que desejem praticar a profissão. O documento “O trabalho infantil artístico nas redes sociais: Como a legislação atual pode proteger crianças e adolescentes no ambiente digital?” elaborado pelo programa Criança e Consumo, iniciativa criada pelo Instituto Alana (organização da sociedade civil, sem fins lucrativos), analisa as atividades dos criadores de conteúdo mirins no que tange a legislação brasileira e propõe medidas para a proteção do público infantil. A análise destaca que no caso dos influenciadores mirins apresenta-se um fator estimulante-compulsório na criação de mídia para a internet. Isso ocorre porque a criança influenciadora deve ser ativa nas redes, interagindo frequentemente com seus seguidores para garantir engajamento, além de ser submetida a gravação de peças de publicidade para empresas anunciantes. Por isso, além de manifestação artística, a atuação da infância na criação de conteúdo requer uma disciplina de trabalho, o que pode gerar sobrecarga de atividades causando danos ao bem-estar da criança. Neste sentido, o documento reforça que “verificar a existência e promover a realização dos alvarás judiciais são responsabilidades das empresas que mantêm as redes sociais e plataformas digitais, bem como das empresas anunciantes, que auferem lucros com o trabalho dos influenciadores digitais mirins, na medida em que eles atraem novos públicos para as plataformas e as tornam mais atrativas às empresas anunciantes, que, por sua vez, se beneficiam pela divulgação de seus produtos e serviços.” Pais e responsáveis legais das crianças que atuam no ramo artístico infantil devem procurar a regularização da atividade infantil, visando o bem-estar e os direitos dos menores. No entanto, a ocorrência de casos notáveis de exposição online de crianças e adolescentes, inclusive durante a gestação, pode suscitar um debate significativamente mais extenso sobre os responsáveis pela criação desse conteúdo. Lua chegou ao Youtube antes de nascer O maior exemplo de crianças que começaram a ser expostas nas redes antes de nascer talvez seja o de Lua, filha da influenciadora Viih Tube e do seu marido Eliezer, que direcionaram a criação de conteúdo para crianças e famílias através de seus perfis profissionais e de um perfil criado para a pequena. A conta da pequena de dois anos acumula 2,6 milhões de seguidores e impulsionou a criação da marca TurmaTube, que comercializa produtos infantis e de cuidados maternos. A empresa também assina conteúdos digitais no Youtube e demais plataformas de música e vídeos para imersão do público em um universo lúdico, conectando a marca ao dia a dia das famílias. Com a chegada de Ravi, segundo filho do casal (hoje com seis meses), mais uma conta pré-nascimento também foi criada e acumula um total de 513 mil seguidores. Reprodução: alô alô Bahia / Reprodução: Turmatube Muitas vezes o que ocorre nesta relação administrador de carreira versus pai/mãe, é um natural conflito de interesses. Ao mesmo tempo que desejam proteger suas crianças e procurar o bem estar, também precisam investir tempo e recursos significativos, muitas vezes à custa da própria vida pessoal e profissional, na gestão dessa carreira. Alguns casos de gerenciamento de carreira por familiares repercutiram em âmbito nacional e internacional,
Editorial
Eduarda Fernandes Estimado leitor, neste ano celebramos o aniversário de 35 anos da Revista Primeira Mão. Este laboratório de jornalismo que existe desde 1989, já fez parte da rotina de muitos estudantes do curso de Jornalismo, primeiro como jornal e agora como revista, e de muitos leitores interessados no que os universitários têm a dizer. 35 anos marcam três décadas e meia de pluralidade de vozes. Marcam tenacidade editorial, apuração eficiente, cobertura diversa, expressão de um tempo e principalmente a formação de novos jornalistas. Os comunicadores que entraram na Primeira Mão não foram os mesmos que saíram dela e isso permanece. Temos novas histórias, novos repórteres, novas ambições, novos propósitos e nova identidade visual. Mas fique ciente, estimado leitor, que o novo e o histórico – porque nos recusamos a chamar qualquer produção jornalística de velha ou ultrapassada – se juntam aqui com o mesmo objetivo: trazer temas de relevância social da esfera cotidiana e promover debates emancipatórios de interesse dos universitários e de toda a comunidade. A edição #163 chega em um momento em que as fronteiras entre o real e o virtual estão cada vez mais difusas. Vivemos uma sobrecarga de informações que molda nosso modo de pensar e agir. Mas ainda é possível resistir a esse ritmo acelerado. Podemos optar por desacelerar, refletir e abrir espaço para vozes críticas. Acreditamos no poder do jornalismo que questiona, propõe e transforma. Viemos para ficar. Como primeira editora-chefe da nova equipe da revista, gostaria de citar minha antecessora Lara Santoro: “Os fatos não falam por si só, é preciso entendê-los, contextualizá-los e vislumbrar as perspectivas que existem. Contar as histórias a partir da realidade de quem, muitas vezes, é invisibilizado. Escutar quem, muitas vezes, é silenciado. Entrever aquilo que, muitas vezes, pode estar escondido.” Espero que tenhamos escutado e escrito aquilo que você queira ouvir e ler, estimado leitor.Somos gratos por produzir jornalismo de qualidade na universidade e mais gratos ainda por poder compartilhar estes materiais com vocês. E sobretudo, espero que façam uma excelente leitura!
A importância de não esquecer
O impacto de “Ainda Estou Aqui” destaca a necessidade de preservar a memória e buscar justiça em meio às tentativas de reescrever a história. Hannah Queiroz O sucesso do filme “Ainda estou aqui” transcende o cinema. É um reflexo de algo muito maior: a busca por reconhecimento, por identidade e por justiça histórica. Mesmo após quatro meses de seu lançamento, o impacto desse filme ainda está presente e marcante na memória dos brasileiros. No Brasil, o longa já arrecadou mais de R$ 25 milhões, e no exterior, atingiu US$ 8 milhões, o que demonstra a ressonância que sua mensagem teve em diferentes públicos. Não há indicação a Oscar que tenha mais valor do que o sentimento despertado ao assistir essa obra. Ela é sobre memória, cidadania e o dever de lembrar. E, mais do que isso, é sobre o direito de contar a nossa própria história, do nosso jeito. Nos últimos anos, o revisionismo histórico — processo em que eventos do passado são reinterpretados, muitas vezes com o objetivo de modificar a percepção coletiva sobre eles — tem ganhado força no país. Algumas lideranças políticas, por exemplo, passaram a defender a ditadura militar como um período de ordem e progresso, ignorando ou relativizando casos documentados de censura, tortura e perseguição a opositores. Discursos que exaltam o regime como uma “revolução” necessária ou que negam a existência de crimes cometidos pelo Estado ilustram essa tentativa de ressignificação da história. Assim que a obra estreou, redes sociais foram tomadas por reflexões, relatos e memórias da época. No TikTok, uma trend viralizou: filhos e netos de vítimas da ditadura compartilharam fotos, cartas e histórias de seus familiares que foram torturados e perseguidos. É como se o filme tivesse reacendido o debate sobre um passado que, apesar de não totalmente esquecido, vinha sendo pouco discutido. Outro reflexo inesperado foi a presença massiva de pessoas mais velhas nas salas de cinema. Com o crescimento das plataformas de streaming, muitos filmes nacionais enfrentam dificuldades para atrair o público às telonas, o que torna essa mobilização ainda mais significativa. Mas faz sentido. Para essa geração, a ditadura não é apenas um capítulo nos livros de história — é uma memória vivida. O filme se tornou um espaço de reencontro com o passado, uma forma de ressignificar experiências e reafirmar que aquilo que viveram, de fato, aconteceu. No fundo, Ainda Estou Aqui é um grito coletivo de um Brasil que se recusa a ser esquecido. Mais do que um evento isolado, essa movimentação sugere que há uma sede por histórias reais, por narrativas que não apenas entretenham, mas provoquem reflexões. A forma do cinema brasileiro, muitas vezes subestimado dentro do próprio país, se manifesta com potência quando histórias como essa encontram um público disposto a ouvir. O sucesso da obra nos lembra que o cinema nacional tem uma função que vai além do entretenimento: ele documenta, questiona e, acima de tudo, resiste. A comoção causada por Ainda Estou Aqui lembra o que aconteceu com Marighella, de Wagner Moura. Assim como o filme sobre o guerrilheiro sofreu boicotes e ataques antes mesmo de sua estreia, Ainda Estou Aqui também enfrentou críticas de figuras políticas que tentam reescrever a história. Assim como no passado houve tentativas de distorcer ou justificar os crimes cometidos durante a Ditadura, hoje esse revisionismo histórico se repete, mas, como no caso de Marighella, a reação do público tem sido uma poderosa forma de resistência. O que essas obras têm em comum, além do tema histórico, é a capacidade de transformar a experiência cinematográfica em um ato político. Não no sentido partidário, mas no sentido mais essencial da política: o direito à memória, à justiça e à verdade. O apagamento da história Se há algo que o sucesso desse filme escancara, é a dificuldade da sociedade brasileira de confrontar seu próprio passado. Quando uma nação não se esforça para compreender sua história, ela se torna mais suscetível a distorções, manipulações e até retrocessos. Mesmo após iniciativas como a Comissão da Verdade, sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2011, o debate sobre a Ditadura Militar segue fragmentado, e, nas redes sociais, é possível ver que muitos ainda preferem ignorar as marcas que esse período deixou. Essa falta de reconhecimento do passado se reflete não apenas na educação, mas também no cotidiano da sociedade brasileira, onde muitas vezes a memória da Ditadura Militar é apagada ou distorcida. Quando figuras públicas minimizam ou rejeitam filmes e produções que abordam esse período, como foi o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, (que disse: “Nem vou perder meu tempo, tenho o que fazer. Conheço a história melhor do que eles”, elas) contribuem para manter essa negação. Além disso, o ex-ministro da Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias , também seguiu a mesma linha, classificando a obra como “manipulação comunista”. Esse tipo de discurso não é novo. Durante anos, figuras políticas alinhadas à extrema direita tentam transformar a Ditadura em um período “ordeiro”, em que “não houve corrupção” e “não se matou ninguém”. Mas “Ainda estou aqui” não precisa de ideologias para ter impacto. A vwwerdade, por si só, já é forte o suficiente. O revisionismo histórico, além de ofensivo às vítimas e seus familiares, tem um impacto real na sociedade. Quando um governo relativiza crimes do passado, ele abre caminho para que novas violações aconteçam no presente. Se o Estado não reconhece os erros cometidos contra seu próprio povo, como garantir que eles não se repitam? O caso de Rubens Paiva, embora sem esclarecimentos completos, tem mostrado avanços. A abertura de arquivos secretos e o reconhecimento de torturas e mortes são passos importantes, embora ainda insuficientes. Esses avanços, embora lentos, são essenciais para confrontar o passado e garantir que a justiça seja feita. A memória histórica não pode ser apagada por decreto, por discurso ou por revisionismo. Se há algo que esse filme prova, é que a história do Brasil não pode ser ignorada. E se ainda há quem tente fazer isso, o cinema, a arte e a cultura continuarão
Movimento antivacina: ameaça à saúde coletiva
Com 21% dos brasileiros temendo reações adversas, especialistas apontam a influência da pandemia de covid-19 no movimento antivacina A vacinação é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das ferramentas mais eficazes para a proteção da saúde pública, capaz de prevenir doenças, reduzir a mortalidade e erradicar enfermidades endêmicas. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, consolidou o país como referência em campanhas de vacinação, alcançando altas taxas de cobertura vacinal e contribuindo para o controle de doenças como o sarampo, rubéola e a coqueluche. No entanto, nos últimos anos, discursos que expressam a desconfiança e insegurança em relação às vacinas têm ganhado força. Em nível nacional, segundo uma pesquisa do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), divulgada em junho de 2024, 27% dos entrevistados afirmam já ter sentido medo de se vacinar ou de levar uma criança ou adolescente para se vacinar, enquanto 21% avaliam como alto o risco de reações adversas às vacinas. Esse fenômeno tem acompanhado uma queda significativa na cobertura vacinal no Brasil, que, após atingir 97% em 2015, caiu para 75% em 2020, segundo dados do Instituto Butantan. A queda na cobertura vacinal ocorre por diversos fatores, desde a dificuldade de usar os serviços de saúde, até o escasso acesso à informação. Contudo, especialmente após a pandemia de covid-19, cresce a tendência de descredibilização das vacinas e das autoridades sanitárias, antes tidas como essenciais. O anúncio da saída dos Estados Unidos e da Argentina da OMS é um exemplo disso. Constituída em 1948, a Organização Mundial de Saúde é reconhecida como um importante agente que atua na coordenação de ações de saúde em escala global. Contudo, sua gestão tem sido questionada, essencialmente por grupos antivacina que desaprovaram suas orientações durante a pandemia de covid-19. No período pandêmico, o governo de Donald Trump se opôs a algumas decisões tomadas pela organização, o que motivou, em parte, o afastamento dos EUA da organização. “A decisão de retirada responde à pressão de grupos internos americanos que acreditam que as ações da OMS foram negativas”, apontou a especialista em relações internacionais Denilde Holzhacker em uma entrevista à CNN. Tendo em vista a posição do país como um dos principais investidores na OMS, a saída reforça a narrativa que descredibiliza a organização e impacta diretamente sua capacidade de atuação. Segundo a Agência Brasil, Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, destacou que a decisão torna o cenário sanitário ainda mais crítico e já anunciou redução de gastos para preservar programas da entidade. Estudos como o relatório Pandemic Profiteers, do Center of Countering Digital Hate (CCDH), revelam uma tendência de descredibilização das autoridades sanitárias, bem como da politização do debate sobre saúde. O relatório de 2021 investigou o mercado por trás do movimento antivacina nos Estados Unidos e em países europeus. Com destaque para a articulação entre a indústria farmacêutica e médicos negacionistas que atacam as vacinas para, em seguida, oferecer tratamentos alternativos, como medicamentos ou vitaminas. O relatório estima que esses grupos movimentam cerca de 36 milhões de dólares ao ano com a prescrição de produtos, venda de palestras, livros e associação com grupos políticos. Motivos que influenciam a desconfiança e a hesitação vacinal Para além de questões culturais e políticas, a falta de percepção de risco é um dos principais motivos para a desconfiança nas vacinas. Com o sucesso do Plano Nacional de Imunizações, doenças como o sarampo, a coqueluche e a rubéola foram praticamente erradicadas no Brasil, fazendo com que as novas gerações subestimassem o risco que elas representam. O professor e pesquisador de comunicação em saúde do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Territorialidades, Fábio Goveia, explica: “A eficiência do plano fez com que as gerações mais novas nem conhecessem essas doenças, o que leva a uma queda na crença de que elas são realmente perigosas”. Outro ponto que corrobora a hesitação vacinal é a preocupação com possíveis efeitos colaterais das vacinas. Para pesquisadora e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, o medo associado ao não entendimento do risco de certas doenças, contribui para uma percepção de que as vacinas são dispensáveis. Esses dois fatores estão diretamente ligados ao conhecimento da população sobre a eficácia da vacinação e sua importância para a saúde coletiva. Ela destaca o desafio de estimular a vacinação entre crianças e adolescentes que não vêem motivos suficientes para se vacinar. De acordo com Ballalai, as vacinas contra o HPV (papilomavírus humano) e a covid-19 direcionada a crianças e adolescentes são as principais impactadas pela hesitação vacinal hoje, por serem focos do movimento antivacina. Dados apontam a queda na cobertura vacinal do HPV no Brasil e a desconfiança dos jovens em relação à vacinação (veja o gráfico). Panorama do HPV no Brasil de 2014 a 2025. Fontes: Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde; Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG; Painel do Ministério da Saúde – Coortes Vacinais – Papilomavírus Humano (HPV) Criação: Isadora Eleutério Charge inglesa antivacina do século 19 mostra pessoas desenvolvendo características de bovinos após a vacinação contra a varíola. Fonte: James Gillray/Anti-Vaccine Society Print (Agência Senado) A história da resistência às vacinas A desconfiança em relação às vacinas não é um fenômeno novo. Desde a invenção do primeiro imunizante, criado por Edward Jenner, na Inglaterra do século XVIII, houve resistência por parte da população à aplicação das vacinas. Na época, ainda sem diretrizes de ética médica, Jenner descobriu um método de imunizar pessoas contra a varíola a partir do pus de indivíduos que tiveram contato com vacas contaminadas pela doença. A prática foi considerada repulsiva por muitos. Alguns grupos acreditavam que a doença era uma punição divina e não deveria ser tratada ou prevenida, outros, sugeriam que a vacina poderia causar características de bovinos nos seres humanos. Para a pesquisadora Isabella Ballalai, o principal motivo de desconfiança em relação às vacinas, desde aquela época, é o fato de ser um produto preventivo. “A vacina é um produto que aplico em você sem que você esteja doente, isso já assusta”, explica. Apesar
Música, Livro, Filme
Praia do futuro ⭐⭐⭐⭐⭐ O novo álbum do Baianasystem vem carregado de ritmo, com uma pegada de Olodum, e conta com participações incríveis, como Anitta e Seu Jorge. Mas a música que se destaca, para mim, é “Praia do Futuro”, uma homenagem à famosa praia de Fortaleza. Envolvente, ela convida o ouvinte a cantar junto, e é difícil resistir a esse convite. Em alguns momentos, parece que a canção vai chegar ao fim, mas é aí que ela explode, trazendo ainda mais alegria. Sorte de quem tiver a chance de dançar e cantar ao som dessa música no Navio Pirata, em Salvador. Isadora Lima A jornada – águas mais profundas Gênero: romance ⭐⭐⭐⭐⭐ É difícil imaginar que um padre ousaria escrever um livro de romance. A obra retrata histórias plurais e pensamentos diversos que conduzem humanidade ao longo da vida. O enredo apresenta um grupo formado por diferentes jovens que, por algum motivo, acabam aceitando participar da Jornada Mundial da Juventude que ocorre em um lugar sensível do mundo. Os dilemas que surgem ao longo da viagem intimam o leitor a refletir sobre suas próprias escolhas em uma sociedade que oferta tantos caminhos: crer ou não crer? Ler ou não ler? A escolha é sua! O autor do livro, Padre Anderson Gomes, que atua na Arquidiocese de Vitória, propõe uma jornada diferente aos que se arriscam a trilhar os caminhos da fé. História sensacional! Ghenis Carlos Conclave (2024) Gênero: Thriller/Mistério⭐⭐⭐⭐⭐ A indicação de “Melhor Filme” ao Oscar não foi à toa. Conclave é aquele tipo de filme que te prende, com uma trama cheia de surpresas. A fotografia de Edward Berger é impecável, com enquadramentos que fazem a gente se sentir dentro da história. Mas o grande destaque é, sem dúvidas, os discursos feitos pelo cardeal Lawrence, interpretado por Ralph Fiennes. São os momentos mais intensos e impactantes do filme, trazendo uma carga emocional incrível. Sem dúvida, uma das melhores obras do ano. Hannah Queiroz