Alberto Borém e Emanuela Afonso

A menos de dois meses do início de um novo semestre letivo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), os estudantes nunca estiveram tão perto, desde a chegada do coronavírus, de retomar 100% das aulas presenciais. Para médicos especialistas ouvidos pelo Universo Ufes, este é o momento ideal para a diminuição das aulas no modelo on-line e volta ao presencial, considerando o atual estágio da pandemia com a ampla cobertura vacinal contra a Covid. Um posicionamento favorável do Conselho Universitário é necessário para que a Fase 4 seja aprovada e os alunos voltem às salas de aula.
Na avaliação do infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti Júnior, a volta às aulas presenciais é uma necessidade. O médico afirma que a retomada dos alunos precisa ser analisada de forma mais ampla, levando em conta que alguns alunos tiveram dificuldade de acesso à internet durante o período.
“É uma necessidade a retomada das aulas presenciais na Ufes. Podemos retomar diminuindo os riscos com medidas elementares: ampliação de ambientes ventilados, higiene das mãos, uso permanente da máscara. Volta às aulas é uma questão mandatória, embora haja uma fração de risco.”
Quando perguntado sobre o passaporte vacinal, documento que exibe o ciclo de vacina do indivíduo, se há atraso ou não no recebimento de doses, o infectologista se posicionou a favor da obrigatoriedade de apresentação para alunos, professores e servidores.
“Com certeza [exigência do passaporte de vacina]. As vacinas, embora não garantam impedimento da infecção, contribuem em larga escala para evitar o desenvolvimento de casos graves. Vacinar é necessário para proteção às pessoas, uma estratégia coletiva”, afirma Crispim Cerutti Júnior.
PASSAPORTE JÁ TEM SIDO EXIGIDO NA UFES
A universidade capixaba exige o passaporte de forma independente, uma vez que não há indicação do Ministério da Educação. O chefe da pasta, ministro Milton Ribeiro, aliás, chegou a publicar uma portaria que informava “não ser possível” a exigência do documento por parte de instituições federais de ensino. O STF determinou a suspensão da medida um dia depois.
O documento passou a ser exigido, desde o início do mês de fevereiro, em bares, restaurantes e academias do Estado, independentemente da classificação no Mapa de Risco da Covid. A apresentação do documento é obrigatória. A recomendação feita pelo governo estadual aos estabelecimentos busca incentivar a vacinação. Dias após a implementação da obrigatoriedade, ao menos duas câmaras de vereadores do Espírito Santo já aprovaram projetos impedindo a obrigatoriedade. Vitória e Colatina aprovaram no legislativo uma proposta semelhante que agora deve ser encaminhada aos prefeitos das duas cidades para sanção ou veto.

Apesar do encaminhamento político do assunto, médicos defendem que o passaporte é uma estratégia capaz de dar mais segurança aos que convivem em determinado espaço. Na avaliação do médico imunologista Daniel Gomes, o passaporte vai além do incentivo à vacinação, porque influencia no risco de infecção pelo vírus.
“A volta às aulas precisa ser muito pensada. Sabemos que houve prejuízo na educação. É inevitável a volta, mas precisa ser feita com muito cuidado. O passaporte vacinal é muito importante para todos que tenham sido vacinados. Ainda é preciso respeitar as regras. A vacinação não é apenas um incentivo, mas uma medida de proteção.”
O médico e também professor da Ufes lembra que uma pessoa não vacinada possui maior carga viral que aquelas imunizadas. Daniel Gomes ressaltou ainda a necessidade de completar o ciclo vacinal, sem que haja atraso nas segundas e terceiras doses.
VOLTA ÀS AULAS PRESENCIAIS PODE SER DETERMINADO NA SEXTA (18)
Cabe ao Conselho Universitário definir se os estudantes voltam ou não ao ensino presencial na Ufes. O grupo leva em consideração boletins emitidos pelo Comitê de Coronavírus da própria universidade, que indica dados atuais da pandemia.
Caso a Fase 4 seja aprovada, os estudantes devem voltar às aulas presenciais no dia 18 de abril, quando haverá o início do semestre letivo 2022/1. Até o momento, apenas algumas disciplinas estão sendo administradas de forma presencial. O ensino híbrido compreende uma mistura entre o presencial e o remoto.
O Diretório Central dos Estudantes se posiciona de maneira favorável ao retorno dos alunos no formato presencial a partir do mês de abril. Em entrevista ao Universo, o diretor do DCE Hilquias Crispim explica que estar na Fase 4 significaria uma maior quantidade de alunos nas sedes da instituição. A partir da nova fase, os alunos com comorbidades seriam os únicos a terem chance de escolher entre o ensino presencial ou remoto.
“É quase unânime o desejo de ofertar disciplinas para todas as pessoas. Queremos um retorno maior dos alunos. A vacinação, acompanhada do que foi orientado pela última vez pelo Comitê, indicou as condições para retomarmos a partir do dia 18. Teríamos abertura das bibliotecas, retorno parcial do Restaurante Universitário”, diz.
Uma sessão extraordinária foi marcada para o dia 18 de fevereiro. Uma decisão favorável do Conselho Universitário pode bater o martelo e determinar que os estudantes voltem ao ensino presencial a partir do próximo semestre.