Superlotação, atrasos, conflitos e barulho em excesso: as dificuldades de quem utiliza o transporte público para ir à praia na Grande Vitória
O pé na areia, a caipirinha, a água de coco, a cervejinha… Quem não gosta de praia? Para muitos, ela é um dos espaços mais democráticos, onde pessoas de diferentes classes sociais podem se reunir. No entanto, essa ‘democracia’ esbarra na realidade de quem depende do transporte público para chegar até lá. O mar e a areia ainda não conseguem atravessar as barreiras das desigualdades sociais.
Enquanto é difícil encontrar alguém que não goste de praia, é fácil encontrar quem tenha dificuldade para desfrutar desse espaço. Cenas de ônibus entupidos e pontos lotados se tornaram rotina na vida de quem depende do transporte público.
Luciana, nail designer, explica os desafios que enfrenta nos domingos. “Falta muito ônibus, principalmente nos finais de semana. Só passa de hora em hora. E é o dia que o povo tira para se divertir, depois de trabalhar a semana inteira. A gente passa mais tempo no terminal e esperando no ponto do que realmente se divertindo”, desabafa.
Na realidade, a matemática é simples. No Brasil, cerca de 32 milhões de pessoas trabalham em regime de 6×1 (segundo dados do Ministério do Trabalho – RAIS). Considerando que o dia de folga da maioria dessas pessoas será tradicionalmente o domingo, é exatamente nesse dia que a frota de ônibus é reduzida ao máximo. Ou seja, problemas como superlotação, brigas, excesso de barulho e atrasos são resultados de uma alta demanda e de uma oferta baixíssima.
Além da redução na quantidade de ônibus disponíveis, algumas linhas simplesmente deixam de operar aos domingos. É o caso da linha 505 (Terminal de Itacibá – Terminal de Laranjeiras), que passa por pontos próximos das praias mais frequentadas de Vitória, como Ilha do Frade, Ilha do Boi, Camburi e Curva da Jurema. No lugar dessa linha, entra o chamado “linhão”, como o 502, que sai do Terminal de Itacibá, passa pelo Terminal de Jardim América, depois pelo Terminal de São Torquato, e só então segue um trajeto semelhante ao 505. Isso significa que, de segunda a sábado, existe um ônibus que faz um trajeto mais direto até a praia, mas aos domingos pessoas de diferentes regiões são concentradas em uma única linha, gerando problemas previsíveis: superlotação, maior tempo de deslocamento e estresse coletivo, que frequentemente resulta em conflitos.
Segundo Zedequias Inácio, diretor do Sindirodoviários, a superlotação também representa um desafio de segurança pública para os motoristas.“Com a superlotação, há uma disputa muito grande por espaço entre os passageiros, o que gera brigas e confusões, deixando os motoristas inseguros. Esses conflitos são mais comuns em dias de sol, quando o fluxo de pessoas aumenta. Durante o inverno, essas situações são menos frequentes”, explica.
Em nota, a Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb), empresa responsável pelos coletivos, informou que, a partir do dia 8 de dezembro, algumas linhas que atendem balneários receberão reforço. São elas:
- 211 (Santo André / Jardim Camburi)
- 331 (Ilha das Caieiras / Praia do Suá)
- 513 (Terminal Carapina / Terminal Campo Grande, via Terminal Jardim América e Terminal São Torquato, pela Beira-Mar)
- 611 (Terminal Itaparica / Praia da Costa, via Itapoã e CREFES – Circular)
- 672 (Trevo de Setiba / Terminal Itaparica)
- 854 (Praia Grande / Terminal Jacaraípe, via Nova Almeida).
“Além do reforço, haverá ainda 23 veículos de reserva nos terminais para qualquer eventualidade de concentração de demanda além do previsto (…) os veículos de reserva vão atender aos terminais Jacaraípe, Vila Velha, Itaparica, São Torquato e Campo Grande.”
Para usuários do sistema ouvidos pela reportagem, uma solução é unanimidade: aumentar a frota de ônibus. “Muito mais ônibus, muito mais linha. Tipo, a linha que a gente pega pra vir, ela dá muita volta, e a maioria do pessoal vem direto pra praia, então, se um ônibus que pegasse da ponta da praia até aqui direto seria melhor, acho que quanto mais ônibus e a rota mais rápida, melhor”, explica o estudante João Henrique, que faz o trajeto de Cariacica a Vila Velha.
De acordo com Paula Roberta e João Henrique, uma boa dica para evitar transtornos é sair de casa cedo e voltar antes do horário de pico. “Eu costumo vir mais cedo, como minha mãe gosta de pegar o sol do meio-dia na praia. Por isso, geralmente chegamos entre cinco e meia e seis horas da manhã e vamos embora ao meio-dia. Hoje acabamos passando do horário. Normalmente, devido à lotação, viemos de ônibus e voltamos de Uber.”, explica Paula Roberta.