Ginástica: Movimento que transforma

A prática ajuda no desenvolvimento motor, na autoestima e na socialização das crianças.

Solo, salto, barras assimétricas e trave na ginástica artística, arco, bola, maças e fita na ginástica rítmica. Esses termos estão na cabeça dos brasileiros depois do sucesso de Rebeca Andrade nas duas últimas Olimpíadas e as recentes conquistas da equipe de ginástica rítmica no Pan-Americano e na Copa do Mundo. 

O holofote na ginástica fez com que o esporte ficasse em terceiro lugar com mais super fãs no Brasil, perdendo apenas para o futebol e o vôlei. Segundo uma pesquisa da Sponsorlink de 2025, houve um aumento de 44% na última década. O despertar das crianças para praticar essas modalidades aconteceu em todo o país. Logo após as Olimpíadas, o Centro de Treinamento Amigos do Esporte, de Belo Horizonte, teve um aumento de 400% na procura pela ginástica, com 1.500 candidatos.

O  professor, pesquisador, ex-ginasta Maurício Olliveira,  coordenador do projeto “Escolinha de Iniciação à Ginástica”, da Ufes, conta que esse efeito Rebeca também foi percebido no Espírito Santo.“As pessoas gostam de assistir, de apreciar a ginástica. Toda vez que tem um grande evento e a ginástica se destaca, buscam o esporte. Com o fenômeno da Rebeca, que chamou muita atenção nas últimas duas Olimpíadas, a nossa lista de espera aumenta. É muito bom saber que tem essa procura toda”.

Vantagens da iniciação à ginástica na infância

Além de formar atletas, a prática de ginástica se torna um fator importante no desenvolvimento infantil e um aliado dos pais na busca pela saúde dos filhos. Maurício acredita que o esporte prepara a criança em todos os aspectos da vida. “A ginástica tem benefícios que são físicos: vai ficar mais forte, mais flexível, mais resistente e mais coordenada. Tem psicológicos: vai aprender a lidar com o medo, com as avaliações e com a pressão.  Também tem os benefícios sociais: fazer amizades, ter empatia, saber ajudar, apreciar e avaliar o outro”, explicou o coordenador.

Arthur Murayama, monitor do projeto, entende que o principal benefício da atividade é o desenvolvimento da cognição, que além de ajudar com a execução dos movimentos melhora o comportamento social. “ Elas conseguem ter mais flexibilidade, agilidade, força, consciência corporal, e também vai ajudar nas questões de casa e da escola”, explica o monitor.

Para Felipe Anunciato, pai da aluna Maya, o esporte é seu aliado para manter a saúde física e mental da filha.“A gente vive num momento de telas, né? Então é a hora que a gente consegue tirar um pouquinho da tela e trazer para fazer uma atividade física, e ela gosta muito. Não falta uma aula”, pontua o pai.


Felipe Anunciato e a filha Maya

Exigência na medida

A ginástica além de exigir bastante do atleta no físico, principalmente, no início, para que se forme a consciência corporal, exige muito do mental para lidar com as cobranças de movimentos perfeitos e boa performance nas competições. Concentração, coordenação, disciplina, equilíbrio, flexibilidade e força são características de ginastas.

Lidar com frustrações e aceitar as quedas não é fácil para todos. A pressão que a ginasta Rebeca Andrade enfrenta, pode ser motivadora, mas vem de sua adaptação ao longo dos anos e do suporte com a psicóloga da seleção. Ela sempre exalta nas suas entrevistas o quanto essa profissional é essencial para sua performance.

Nas Olímpiadas de 2020 a ginasta americana Simone Biles, considerada uma das maiores do esporte, chocou o mundo quando desistiu na metade da competição após sentir bloqueios mentais durante um salto, fenômeno chamado de twisties. Esse episódio com a atleta considerada um mito trouxe a discussão do cuidado com a saúde mental ser indispensável.

E como essa pressão chega aos iniciantes? Maya Anunciato, de 8 anos, pratica ginástica há três anos, se inspira em Rebeca Andrade e sonha em ser atleta profissional. Ela relatou como lida com a pressão nos treinos. “Às vezes, quando é um movimento muito difícil, que vai ser a primeira vez que eu vou fazr, eu fico meio nervosa. Aí eu respiro e concentro o máximo”, ensina.


Maya Anunciato

Maurício e Arthur relatam que por estarem trabalhando com crianças na iniciação à ginástica olímpica a cobrança é muito mais leve. Mas deixam claro que para uma excelente execução o processo é a longo prazo.

“A busca da perfeição da ginástica é todos os dias. O  ginasta bom vai aprender que vai cair. A criança precisa entender desde muito cedo que não deve ser perfeita ali no treino, talvez, na competição. E a competição é um planejamento em longo prazo, até chegar lá, ela já passou por toda uma fase adaptativa, tranquila, e na competição nem vai pensar nisso, só vai fazer o que já está treinando”, explica Maurício; “Fazemos algumas brincadeiras, treinos lúdicos, para que elas consigam ter uma visão mais leve do que é essa dificuldade do perfeccionismo na ginástica”, conta Arthur.

O pai de Maya afirma que percebe um nervosismo na filha quando vai participar de uma competição ou aprender um movimento novo, e explica como lida com a situação: “ela fica nervosa, ansiosa quando eles vão para uma competição ou para fazer um exercício novo, mas a gente tenta auxiliar para ficar tranquila. Ela sabe lidar bem com a pressão”.

GINÁSTICA NO ES

O estado do Espírito Santo atua na formação de base de atletas já há algum tempo. A ginástica rítmica capixaba teve atletas que foram para as Olimpíadas, Mundiais e Pan-Americanos. Neste ano, o Brasil conquistou, pela primeira vez, medalhas em um Campeonato Mundial da modalidade, com a capixaba Amanda Manente entre as protagonistas. Outro destaque da ginástica rítmica no ES é a treinadora, Monika Queiroz. Além de ter comandado a seleção individual da modalidade nos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, Lima 2019 e nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e Rio 2016, ela revelou a também capixaba Deborah Medrado. Na artística, teve grandes promessas no passado, mas ainda não conseguiu dar esses saltos que a ginástica rítmica deu. 

O momento atual da ginástica artística capixaba é muito mais de fomentar o esporte. O governo estadual inaugurou, em março deste ano, um ginásio com equipamentos importados.

“O melhor ginásio que tinha no estado era o da Ufes. O fato de ter esse ginásio vai ajudar a fomentar com segurança, preservando o atleta, para ele chegar num brasileiro, por exemplo. Agora a gente está com condições. O que falta agora é continuar incentivando as nossas crianças a gostarem do esporte”, refletiu o coordenador.

PROJETO UFES


Aula turma de iniciação à ginástica artística

A Ufes atua com o projeto “Escolinha de Iniciação à Ginástica” desde 2012. Mesmo na pandemia, o projeto não teve pausas. Ele visa democratizar o acesso à prática da Ginástica Artística por meio da oferta de aulas de iniciação e intermediário para crianças de 7 a 12 anos.  Em todos esses anos houve lista de espera, e com o sucesso da modalidade chegou a ter 120 crianças. 

O projeto conta com uma turma de iniciação e outra intermediária e não tem critério de habilidade para começar. A de iniciação normalmente são alunos que nunca fizeram nenhum tipo de atividade de ginástica. Com o aperfeiçoamento e evolução ocorre a transição para o intermediário. Os alunos que se destacam participam de competições estaduais e são indicados para academias particulares para se desenvolverem mais para a competição. Atualmente, o projeto aguarda o calendário do segundo semestre para inscrever seus alunos nas copas e festivas da Federação Espírito Santo de Ginástica. 

“Por enquanto, estamos focados nessas competições mais regionais. Tomara que um dia a gente também possa alçar voos maiores, mas o nosso projeto também forma ginastas que vão para as academias particulares de Vitória, que prezam mais pela competição”, disse o coordenador.

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

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