Cultura capixaba ganha força com festivais que democratizam o acesso e valorizam a produção local no Espírito Santo
Sabrina Nascimento e Vida Flor
A cena cultural da Grande Vitória vem ganhando fôlego com a realização de festivais de música gratuitos que ocupam espaços públicos com arte, música e diversidade. Iniciativas como o Delírio Tropical e o Movimento Cidade mostram que é possível democratizar o acesso à cultura e, ao mesmo tempo, fomentar conexões potentes entre artistas, público e território.
Além de abrir espaços para novas expressões artísticas e valorização local, esses eventos propõem uma experiência coletiva e acessível, que rompe com os limites geográficos e financeiros que muitas vezes dificultam o acesso livre à cultura. Ao serem realizados em espaços abertos, os festivais ampliam a participação popular e criam ambientes mais representativos, tanto para quem sobe ao palco quanto para quem assiste.
A participação em festivais tem sido estratégica para apresentar o trabalho de bandas a novas gerações a fim de ampliar o alcance da cena musical capixaba dentro e fora do estado. Esse feito aproxima o público de diferentes expressões culturais e impulsiona artistas locais de diversas áreas para além da música, como teatro e audiovisual.
Cultura e tradição
A banda Casaca, com 25 anos de história, mistura o reggae, o rock e o congo capixaba e reafirma seu espaço na valorização da cena cultural do Estado. “O principal papel desses festivais é a difusão, que na minha visão, é o próprio estímulo para que cada vez mais pessoas se interessem por arte e cultura. É importante que o público tenha acesso de forma gratuita a esses festivais para que cada vez mais a gente possa fomentar a cultura”, afirma Danilo Chapecó, baixista da Banda Casaca.
Apesar de estar localizada na região Sudeste, a cena cultural capixaba ainda enfrenta desafios estruturais e de visibilidade em relação aos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Mesmo com essa distância, a produção artística do Espírito Santo se destaca pela riqueza e diversidade, e iniciativas de circulação e acesso são vistas como fundamentais para fortalecer esse ecossistema. “É muito complicado, principalmente para algumas bandas mais novas, bandas de estilos mais alternativos, viver de música ou de arte no Espírito Santo. Mas acredito que cada vez mais os artistas vão se redescobrir e conseguir fazer música de forma viável e muito feliz”, completa Danilo.
A sustentabilidade da carreira artística no estado ainda requer esforço contínuo de reinvenção e resistência. Ainda assim, cresce o número de artistas que conseguem viabilizar suas produções e manter uma presença ativa no cenário cultural.
Os festivais
O Movimento Cidade também aposta no poder da ocupação cultural para transformar o espaço urbano em lugar de encontro. Atuando como um evento de expressões artísticas integradas, o festival permite, de modo gratuito, a possibilidade de o público não apenas usufruir da cena cultural capixaba, por meio de shows, mostras audiovisuais e manifestações culturais, mas também de participar ativamente da construção dessas produções. “Entendemos que é muito importante a aderência de novos públicos às novas linguagens do audiovisual, que é cada vez mais múltipla e dinâmica. Como somos um festival gratuito e realizado com recursos de Lei de Incentivo à Cultura, a acessibilidade dos conteúdos e a democratização do acesso são itens fundamentais”, explica a assessoria do Festival Movimento Cidade.
O Festival Delírio Tropical, por sua vez, traz uma proposta que mistura música, arte, sustentabilidade e pertencimento. Realizado em espaços abertos e gratuitos, procura dar visibilidade a artistas locais e experiências que conectam o público com a identidade cultural capixaba. “Buscamos não apenas oferecer entretenimento, mas também valorizar nossos artistas, fomentar a economia criativa e proporcionar um espaço verdadeiramente acessível e democrático. O Delírio Tropical é mais do que um festival, é um movimento de celebração e valorização da cultura capixaba”, destaca Vincenzo Guizzardi, diretor do evento.
Ao descentralizar os espaços culturais e atrair um público variado, esses festivais vêm consolidando um modelo mais inclusivo de fruição cultural. Em tempos de cortes, iniciativas como o Delírio Tropical e o Movimento Cidade mostram que a cultura pode, e deve, ser de todos. E que para isso, precisa de investimento e apoio.
É de graça, mas quem paga?
Embora gratuitos para o público, estes eventos têm custos reais, de estrutura, cachês de artistas, produção e logística. Quem paga essa conta, muitas vezes são editais públicos de fomento à cultura, parcerias com empresas, instituições e apoio de políticas culturais estaduais ou municipais. O Delírio Tropical, por exemplo, é viabilizado por meio de recursos da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), com apoio da Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult). “Tivemos, em 2022, o início da aplicação da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC/2022), que, até o primeiro semestre de 2024, já contribuiu com a realização de aproximadamente 129 projetos culturais executados. Apesar desses avanços, o setor cultural tem muito potencial e, com certeza, novas políticas públicas podem ser pensadas para o pleno desenvolvimento do setor”, destaca Carolina Ruas, Subsecretária de Políticas Culturais.
“Nesses eventos, o sentimento de pertencimento à cidade é aflorado e a cultura local fortalecida. E isso tem um impacto positivo em diversas áreas, na preservação da cidade, do meio ambiente, no desenvolvimento da economia local. É um sentimento que estimula a participação ativa das pessoas na vida social, política e cultural da comunidade. Além disso, o acesso à cultura é um direito fundamental e a realização de eventos culturais em espaços públicos contribui para a garantia desse direito”, completa Carolina.