Esse é o maior valor em 20 anos sob pretexto de evitar a alta da inflação.
O Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, de 14,75% para 15% ao ano no dia 18 de junho. O movimento marca o maior patamar desde 2006 e representa a sétima alta consecutiva da taxa. A inflação continua em um contexto complicado: acima da meta, em um cenário externo cada vez mais instável.
“Essa alta mostra que o Banco Central está tentando ‘reancorar’ expectativas e mostrar firmeza diante de um cenário econômico que ainda não inspira confiança”, afirma o mestre em Políticas Públicas pelo Insper, Rafael Altoé. “Com inflação persistente e risco fiscal elevado, manter os juros altos é uma forma de proteger a economia de pressões ainda maiores.”
O que é a Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela funciona como um termômetro e uma referência: quando está alta, encarece o crédito e desestimula o consumo; quando cai, estimula a atividade econômica. O objetivo do Banco Central ao subir a Selic é frear a inflação. Com o crédito mais caro, as pessoas tendem a consumir menos, e isso ajuda a conter a alta de preços.
Inflação fora da meta
Apesar de alguns sinais de desaceleração na economia, os preços continuam subindo acima do desejado. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, o mercado espera inflação de 5,2% em 2025 e 4,5% em 2026. Já o Copom projeta inflação de 3,6% para 2026, números acima da meta de 3%. Para a especialista em finanças e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Patrícia Bortolon, o atual cenário econômico exige atenção redobrada, especialmente das famílias com menor acesso à educação financeira. “Em um cenário de juros alto é ainda mais importante o conselho de não se endividar. As pessoas se endividam com as formas mais fáceis que são cartão de crédito e cheque especial, que são também as mais caras“, explica.

Nesse momento, o essencial é fazer escolhas conscientes e priorizar o que realmente é necessário. Anotar quanto entra, quanto sai e para onde esse dinheiro está sendo destinado pode parecer um passo simples, mas evita uma bola de neve com o cartão de crédito ao final do mês.
E os impactos no dia a dia?
Quem mais sente os efeitos da alta da Selic é a população, principalmente quem vive de salário fixo e tem dívidas ou financiamentos. É o caso da professora do município da Serra, Maria Aparecida Carmo, que precisou renegociar o financiamento de um carro.
“Com os juros desse jeito, a parcela que já era apertada ficou quase impossível. Estou tentando vender o carro e usar transporte público, mas até isso está caro. A gente trabalha, mas parece que não sai do lugar”, conta.
Para o assessor de investimentos Rodrigo Prata, da XP Investimentos em Vitória, decisões como buscar um empréstimo ou vender um bem precisam ser analisadas com calma por quem investe ou pretende investir. “Selic alta significa mais retorno para o investidor. Ao mesmo tempo, o crédito mais caro trava a economia real, o que pode impactar outros ativos, como ações”, explica.
O que acontece na prática?
Empréstimos mais caros O financiamento da casa, do carro ou até o limite do cartão de crédito ficam com juros ainda mais altos. | Investimentos mais atraentes Quem investe no mercado financeiro, inclusive na poupança começa a ganhar mais. |
Consumo menor Com o crédito mais caro, as pessoas compram menos, que pode afetar o comércio e os empregos. | Inflação mais controlada A longo prazo essa é a meta, mas, até lá, a economia pode sentir um freio. |