Corrida de rua: de hábito saudável a estilo de vida

Na orla de Camburi, em Vitória (ES), corredores encontram mais do que uma pista. Encontram propósito.A cena se repete todas as manhãs e fins de tarde: tênis batendo no chão, fones de ouvido, sorrisos suados e um mar de gente ocupando o calçadão da orla de Camburi. Para muitos, pode parecer apenas mais uma prática física. Mas, para quem calça o tênis e vai, a corrida de rua tem sido uma escolha de vida, um compromisso com o bem-estar físico, mental e até social.

Não à toa, o Brasil vive um verdadeiro boom das corridas. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor (ABRACEO), com o apoio da agência Esporte & Negócio, o número de provas de rua realizadas no país cresceu quase 30% de 2023 para 2024. Mais do que um dado, esse crescimento mostra uma mudança de comportamento: cada vez mais pessoas estão buscando formas acessíveis de cuidar da saúde e encontrar motivação na rotina.

Na capital capixaba, a orla de Camburi é um exemplo emblemático dessa tendência. Com cerca de 6 km de extensão, a via oferece uma das melhores estruturas do estado para a prática da corrida com espaço bem sinalizado, iluminação, policiamento, pontos de hidratação e uma paisagem que inspira.

Heitor Guimarães, de 24 anos, não é atleta profissional, mas encontrou na corrida uma forma de manter a mente no lugar. “Comecei por causa da ansiedade. Hoje, correr virou um dos meus momentos preferidos do dia. A orla me dá essa sensação de segurança e pertencimento. A gente se reconhece nos outros corredores”, conta.

Esse senso de comunidade também é apontado por especialistas como um dos atrativos da modalidade. Mesmo sendo um esporte individual, a corrida de rua une pessoas que compartilham objetivos em comum, seja superar o próprio tempo ou apenas chegar ao final da prova com um sorriso no rosto.

Um dos motivos para o sucesso das corridas é justamente a barreira de entrada ser baixa: basta vontade, um bom par de tênis e constância. Ainda assim, médicos e treinadores alertam para os riscos de começar sem acompanhamento ou avaliação médica. Mesmo provas curtas de 3 km ou 5 km podem representar desafios para quem está sedentário.

A corrida é uma atividade excelente para o coração e para o controle do peso, mas precisa ser iniciada com cuidado para evitar lesões, que infelizmente são muito comuns”, alerta o ortopedista Domingos Amaral. 

Entre as recomendações mais comuns estão a realização de exames antes de iniciar os treinos, o fortalecimento muscular por meio da musculação e a adoção de práticas de mobilidade para evitar lesões, principalmente nos joelhos e quadris, as regiões mais afetadas.

O ideal é combinar a corrida com treinos de força e respeitar a regra dos 10%, que diz para não aumentar o volume semanal em mais de 10%”, afirma o médico.

O que começa como um desafio físico, muitas vezes, se transforma em um projeto de vida. Acordar cedo, manter disciplina, lidar com o cansaço, celebrar pequenas vitórias. Aos poucos, o corredor não corre apenas para o corpo, mas também para a mente.

Correr me ensina a ser mais paciente, mais resiliente. É onde eu penso, respiro e me organizo”, diz Heitor. “Tem dias que é difícil, mas mesmo assim eu vou. No final, sempre vale.”

E talvez seja esse o maior segredo das corridas de rua: elas não são só sobre chegar mais rápido. São sobre continuar passo após passo, dia após dia, construindo uma versão mais leve, saudável e determinada de si mesmo.

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

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