Pesquisas de opinião mapeiam os principais nomes que podem concorrer às eleições de 2026, enquanto lideranças comunitárias criticam distanciamento dos pré-candidatos
Os movimentos no cenário político para as eleições de 2026 no Espírito Santo já são visíveis. Nomes circulam, alianças começam a se desenhar e discursos ganham espaço nas redes e nas ruas. Mas, em meio a um fluxo constante de informações, nem sempre é simples conectar rostos, trajetórias e intenções.
As três pesquisas mais recentes de intenção de voto — realizadas pelos institutos Paraná Pesquisas em fevereiro, Flex Consult entre fevereiro e março e Instituto Perfil em abril— ajudam a mapear esse cenário. Elas indicam quem são os pré-candidatos mais citados até agora. A partir desses dados, traçamos um ligeiro perfil de cada nome que hoje está no centro da disputa além de ouvir o que pensa quem vive a política no dia a dia das comunidades.
Segundo o presidente da Federação das Associações de Moradores e Movimentos Populares de Cachoeiro de Itapemirim (Fammopoci), Emerson da Silva Costa, persiste um sentimento de distanciamento em relação aos pré-candidatos. “A maioria dos nomes que aparecem nas pesquisas não dialoga com a realidade das comunidades. Falta conexão com o povo, com quem vive as dificuldades na ponta. O sentimento é de distanciamento, de que essas figuras estão muito longe do que a população espera”, afirma.
Ele também relata descontentamento com as promessas não cumpridas ao longo dos anos. “O povo quer ver ação, não só discurso. Espera saúde funcionando, educação de qualidade, segurança e políticas públicas que cheguem de fato. O governador e os senadores precisam ouvir e agir, não apenas prometer.”
Influência das pesquisas
Um dos fatores que, embora não sejam decisivas, exercem influência sobre as decisões dos eleitores são as pesquisas. “Tem gente que decide o voto com base nelas, pensando em ‘não desperdiçar’ (o voto). Mas também existe muita conversa e troca de informações, principalmente pelas redes. As pessoas estão mais críticas e nem sempre seguem o que a pesquisa diz. A comunidade está começando a entender que política não é só votar, é também cobrar, participar, fiscalizar. Tem um movimento crescente de conscientização, e as lideranças têm papel fundamental nesse processo”, explica Emerson Costa.
O segundo diretor financeiro e representante da Federação das Associações de Moradores da Serra (Fams), Osmar Pimenta, confirma esse sentimento e reforça que pesquisas nem sempre refletem o resultado das urnas. “As pesquisas geram comentários, mas não são suficientes para definir o voto. Um exemplo foi a eleição para prefeito da Serra-ES, quando o ex-prefeito Audifax Barcelos se destacava em todas as pesquisas e, mesmo assim, foi eliminado no primeiro turno.”
Pimenta aponta que, além da desconfiança nos políticos, há uma preocupação concreta sobre o futuro do estado. “A população quer segurança, saúde, mais geração de empregos e desenvolvimento econômico. E também teme que uma mudança no governo traga retrocessos nos avanços conquistados na gestão atual de Renato Casagrande.”
Outra liderança que expressa preocupações em relação ao cenário eleitoral é a presidente da Federação das Associações de Moradores de Cariacica (Famoc), Elza Patrício. Com décadas de atuação nas pautas comunitárias, ela acredita que, embora a população esteja um pouco mais consciente, ainda há muita dificuldade na escolha de representantes que, de fato, dialoguem com as demandas populares. “Na verdade, o povo não está preparado verdadeiramente para a eleição. Está um pouco mais consciente, mas ainda vota muito em promessa. A gente tenta levar isso para as pessoas: que não podemos votar contra nós mesmos. Precisamos escolher quem quer mudança social de verdade”, desabafa.
Segundo ela, alguns representantes atuais não têm trabalhado de forma satisfatória: “Tem deputado que você nem vê. Anda como cachorrinho do prefeito, não tem compromisso com ninguém. Ele faz o que quer e não escuta a comunidade.”
A falta de diálogo entre a gestão municipal e as demandas da população é outro ponto de forte crítica. Segundo ela, questões básicas, como a construção de uma creche na Região 11 de Cariacica, seguem ignoradas. “Fizemos abaixo-assinado com mais de 800 assinaturas, entregamos, cobramos e nada. Para a educação e a saúde não tem dinheiro. Mas, para fazer quadra, tem”, afirma indignada.
Para ela, o papel de fiscalizar o processo democrático não é só das instituições, mas também da população. “Quem é fiscal eleitoral somos nós. Temos que ser vigilantes. Se não for assim, não tem jeito”, defende.
Melhoria dos serviços sociais
Na região da capital, Elza Resende da Silva, presidente do Conselho Popular de Vitória (CPV), atesta que o interesse da comunidade varia, mas as expectativas são claras: a população espera que os futuros governantes e senadores priorizem a melhoria dos serviços públicos essenciais — como saúde acessível, educação de qualidade e segurança eficaz —, com investimentos em infraestrutura que cheguem a todas as regiões.
Também demandam políticas que gerem emprego e renda, valorizem a juventude e incentivem a economia local. Querem lideranças presentes nas comunidades, acessíveis e comprometidas com as reais necessidades do povo.
No Senado, as lideranças comunitárias esperam representantes éticos, transparentes e atuantes na defesa dos interesses do Espírito Santo, com atenção às políticas de inclusão social e disposição para barrar retrocessos que afetem os direitos dos capixabas.
Ela diz que há iniciativas populares para fomentar as discussões eleitorais: “Existem vários grupos de WhatsApp que fazem debates bastante construtivos, e os autores são bem esclarecidos, o que resulta em ideias novas e produtivas. Estamos planejando ações para incentivar a participação ativa dos moradores nas eleições de 2026. Acreditamos que a mudança começa quando o povo entende o seu poder e faz escolhas conscientes”, afirma.
Polarização inibe participação
Luiz Gustavo, presidente do Conselho Comunitário de Vila Velha (CCVV), avalia que, de forma geral, a comunidade se sente representada pelos nomes que aparecem nas pesquisas, embora ainda haja desconfiança em relação aos políticos. Mesmo com o avanço de discursos negacionistas, a confiança no processo eleitoral se mantém, e a participação política da população tem crescido, mas ainda está distante do ideal. “Eleição é sempre uma questão muito polêmica, e o aumento da polarização ideológica, que foi o que dominou a política nacional nos últimos anos, acaba afastando as pessoas”, comenta.
Segundo Luiz Gustavo, as pesquisas acabam influenciando a percepção dos moradores ao destacarem determinados nomes. A comunidade espera que os futuros governantes tenham espírito público e coerência com suas propostas, embora as preocupações variem bastante de acordo com faixa etária e classe social.
Diante desse cenário de desconfiança, mas também de esperança por mudança, as escolhas para as eleições de 2026 ganham ainda mais peso.
Nomes sondados nas pesquisas
Arnaldinho Bordo (Sem Partido)
Arnaldinho Borgo é administrador e atual prefeito de Vila Velha. Começou a carreira como vereador em 2012, se elegendo depois deputado estadual. Na prefeitura seu foco é em obras de infraestrutura, modernização dos serviços e diálogo com o setor empresarial, buscando parcerias para desenvolvimento econômico.
Da Vitória (PP)
Ex-policial militar, Da Vitória começou sua trajetória como vereador em Vila Velha. Depois, foi deputado estadual e chegou à Câmara dos Deputados, onde está desde 2019. Sua atuação está voltada para as áreas de infraestrutura, desenvolvimento econômico e pautas municipalistas.
Helder Salomão (PT)
Helder Salomão é professor de filosofia. Foi vereador e prefeito de Cariacica, mesmo município onde iniciou sua militância nas Comunidades Eclesiais de Base. Também foi deputado estadual por dois mandatos (2005–2012). Está no seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados, tendo sido o mais votado do estado em 2022.
Lorenzo Pazolini (Republicanos)
Ex-delegado da Polícia Civil, Lorenzo Pazolini entrou na política em 2018, quando foi eleito deputado estadual defendendo pautas de segurança, ordem e valores conservadores. Em 2020, venceu a eleição para a Prefeitura de Vitória pelo partido Republicanos e se reelegeu em 2024.
Paulo Hartung (PSD)
Paulo Hartung é economista e iniciou sua trajetória como líder estudantil na década de 1980. Desde então, ocupou diversos cargos públicos: foi deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito de Vitória e governador do estado por três mandatos (2003–2010 e 2015–2018).
Ricardo Ferraço (MDB)
Iniciou sua carreira em 1982 como vereador em Cachoeiro de Itapemirim, e passou por cargos de deputado estadual, federal e senador. Sua trajetória é marcada pela atuação nas áreas de economia e infraestrutura, com ênfase em responsabilidade fiscal. Atualmente, é vice-governador do Espírito Santo, pelo MDB.
Sérgio Vidigal (PDT)
Sérgio Vidigal é psiquiatra e tem uma longa trajetória na vida pública. Iniciou suaccarreira como vereador na Serra, em 1988, e desde então foi deputado estadual, deputado federal e prefeito da Serra por três mandatos. Atualmente é secretário de Desenvolvimento do governo Casagrande.