As primeiras mãos

Cada estudante de jornalismo deixa sua marca por meio de estilos, olhares e vivências na revista Primeira Mão

Com o passar do tempo, muitas mãos se juntaram para construir o legado que hoje carregamos, por meio de entrevistas, crônicas, ensaios fotográficos e histórias que comovem e inspiram. A Primeira Mão é uma revista inteiramente produzida atualmente pelos alunos do sexto período de Jornalismo, na disciplina Gêneros, Estilos e Discursos do Jornalismo. Mais do que um projeto acadêmico, ela se tornou um símbolo afetivo para aqueles que passaram por suas páginas, reunindo memórias, aprendizados e conquistas.

Ao longo dos anos, a revista conquistou seu espaço como veículo de comunicação e  de formação, indo além dos muros da Universidade Federal do Espírito Santo e se consolidando como um marco na trajetória de muitos jornalistas. O que começou como um jornal, fruto de uma turma entusiasmada de estudantes, no final do ano de 1989 transformou-se em espaço para evolução na profissão.  Em 1990 ciruclou a edição número 1, elaborada por estudantes da turma de Jornalismo Impresso. 

Aos 35 anos, Primeira Mão continua se reinventando: está cada vez mais moderna e leva na bagagem os valores que traduzem os criadores: a diversidade, inclusão e liberdade.

Compromisso que atravessa gerações

Raquel Salaroli atuou na primeira edição do primeira mão, em 1990. Atualmente é Analista de Comunicação Social na Assembléia Legislativa do Espírito Santo.

Raquel Salaroli, jornalista

Você lembra como surgiu a ideia para criar a Primeira Mão?

Raquel: Surgiu da necessidade de criação de um jornal laboratório para os estudantes de jornalismo. Um semestre antes da criação do Primeira Mão, a turma 87/01 criou um pequeno jornal, mas que ficou restrito à turma. A partir da turma 87/02, ficou ainda mais evidente a necessidade de um meio de comunicação que permitisse aos alunos ter contato real com os processos de produção, apuração, redação, edição e diagramação (sim, na época era diagramação rsrs) das notícias.

Na época, alguns professores estavam à frente da criação desse novo veículo: Ruth Reis (texto), Tânia Mara Ferreira (diagramação) e David Protti (foto). A produção do Primeira Mão era feita com orientação nas aulas deles. Discutimos e aprovamos o nome do jornal, formato, linha editorial… era uma criação coletiva orientada.

Como era a produção da revista na época? 

Raquel: Na época ainda era um jornal, não uma revista. Existia uma sala de prancheta (móvel hoje de museu rsrs) e máquinas de escrever manuais (também peças de museu haha) onde funcionava a nossa redação. Era ali que definíamos toda a produção do jornal. 

Houve um semestre em que foi feita uma parceria com a Associação de Moradores de Jardim da Penha (Amjap) e o jornal virou uma espécie de veículo do bairro. A intenção era permitir que os alunos saíssem dos muros (que não existiam fisicamente na época, era  uma cerca viva de casuarinas) da Ufes para a comunidade, ou seja, para ter contato real com possíveis pautas, fontes e não ficarmos atrelados apenas ao ambiente universitário.  Foi um período de produção muito legal. Depois das matérias prontas (datilografadas em laudas), editadas e fotos escolhidas (reveladas no laboratório de foto), os editores, também alunos, acabavam fazendo a diagramação do jornal, com o método do milênio passado: diagrama, régua de paicas etc. 

Vocês imaginavam que a revista se manteria ao longo de tantos anos?

Raquel: Pra ser sincera, na época acho que a gente nem pensava nisso: na possível vida longa do Primeira Mão. Para mim, pessoalmente, foi uma experiência maravilhosa, e fico super feliz de ver que, aquele embrião que praticamente começou com a minha turma, continua existindo até hoje, se adequando às novas realidades, ano após ano, e servindo de instrumento de aprendizado para os alunos de comunicação. Dá orgulho de fazer parte dessa história e ver que ela continua sendo escrita ao longo dos anos por tantas mãos e colaborando com a formação profissional de tanta gente.

Qual a sua principal lembrança quando se fala da revista?

Raquel: Que a gente se achava muito (hahahaha). E era bom demais. Não de forma arrogante, é claro. Mas como a gente tinha contato pela primeira vez com a produção real de jornalismo, a gente meio que já se sentia jornalista, um pouco mais perto do mercado para onde almejávamos ir depois. Era um primeiro contato com a realidade profissional. E isso dava uma adrenalina muito legal, era um grande incentivo, porque as matérias práticas estavam sendo vividas, de fato, de forma prática. Eu aprendi muito com o Primeira Mão. Por meio do trabalho que desenvolvi nele, inclusive fui indicada por uma das professoras a fazer alguns trabalhos antes mesmo de me formar. Na nossa época o estágio era proibido e era mais difícil treinarmos a profissão antes de entrar nela. Então, o Primeira Mão foi, para muitos, a primeira e única experiência antes de entrar pra valer no mercado de trabalho.

Eu tive experiência depois na primeira turma de estagiários da Rádio Universitária e também nesses trabalhos para os quais fui indicada. Mas muitos viveram o Primeira Mão como ‘a experiência’ jornalística durante o período de formação profissional.

Memórias que não se apagam

Wilson Igreja Campos participou da Primeira Mão no segundo semestre de 2003. Atualmente é coordenador de Marketing e Eventos no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes).

Wilson Igreja, jornalista

Como foi a sua experiência na Primeira Mão?

Wilson: Eu achei que a minha experiência na disciplina que envolvia o Jornal Primeira Mão foi muito bacana. Ela era uma disciplina como uma mini-redação. Então, deu para dar uma noção muito real e interessante de como fazer essas interações. De busca de pauta, discussão dos assuntos, o que entraria em cada editoria. Quando eu cursei, acho que a gente fez três edições no período e a gente teve uma edição que teve uma interação com a disciplina de fotografia. Então, o pessoal estava tirando fotos e elas entraram no jornal. Foi bem interessante. Tivemos a vivência também de buscar patrocínio para veiculação de impressão e publicação do jornal, que naquela época não tinha uma verba fixa, uma verba menor, então a gente buscou patrocinadores externos à universidade para poder publicar. Então, assim, eu achei que foi uma vivência bem interessante porque, num campo seguro como um campus universitário, você pode errar e experimentar. A gente fazia a busca das pautas, fazia discussão dos assuntos e depois a diagramação e publicação do veículo. Sentíamos muito orgulho de ter aquele produto depois publicado.

Primeira Mão: Qual a sua principal lembrança quando se fala da revista?

Wilson: As principais lembranças que eu tenho da disciplina, quando eu cursei a revista, que na época era um jornal, eram as discussões que simulavam uma redação. Então, tivemos um tempo para fazer as pautas. A professora na época era a professora Ruth Reis, ela fazia umas editorias. As editorias eram separadas por campus, lembro que eu e minha dupla fomos ao campus de Maruípe e apuramos uma pautas. Depois, a turma se reunia para discutir essas pautas  e quais que entravam ou não. Cada editoria possuía seu editor, um aluno indicado, era parecido com um jornal. Eu me recordo dessa vivência da questão da busca da pauta, de selecionar o que seria mais relevante ou não para entrar no jornal.

Eu lembro de algumas discussões específicas das aulas. Quem queria uma pauta ou outra, quem queria uma pauta maior, se seria em dupla e trio, quem queria fazer uma pauta mais voltada à cultura ou outros aspectos, já existiam editorias diversas, porque o espaço nos permitia isso.

Primeira Mão: Como a revista influenciou na sua carreira?

Wilson: Eu acabei optando por trabalhar em assessoria, trabalhei a minha vida toda em assessoria. Hoje, sou formado há mais de 20 anos. Quando cursei a disciplina foi no segundo semestre de 2003. Acho que foi uma experiência muito interessante para simularmos o ambiente de trabalho. Onde hoje eu trabalho, temos o costume de trazer as pautas, de discutir, de conversar com os colegas e definir o que é mais interessante para os nossos veículos, veículos institucionais e organizacionais. Então, vejo que foi bem interessante ter o primeiro contato com essa vivência logo na universidade. 

 

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

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