O futuro é inevitável, as formas de se manter competitivo mudam, ainda mais fora dos grandes centros esportivos. No atual cenário, a moda do momento, no universo dos investimentos, é a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), um modelo de gestão que permite a transformação de clubes de futebol em empresas. Neste formato, é possível que vários acionistas se juntem para aumentar os investimentos nas equipes.
No Brasil, a criação da SAF ganhou força após a Lei nº 14.193, de 2021, que instituiu o regime jurídico para o futebol empresarial, facilitando o acesso a créditos e investimentos para os clubes que aderirem ao modelo. Para o futebol capixaba, que historicamente sofre com limitações financeiras e pouca visibilidade nacional, a SAF representa uma nova esperança.
Rio Branco Atlético Clube: pioneiro capixaba na transformação
Maior campeão do Espírito Santo, com 39 títulos estaduais, o Rio Branco Atlético Clube adotou o modelo SAF em 2023, quando vendeu 90% da sua SAF para a T2R Sports, grupo de investidores capixabas. O contrato estabeleceu um investimento mínimo de R$ 50 milhões a serem aplicados ao longo de 10 anos. A T2R é liderada por Renato Antunes de Souza Júnior, CEO do clube, e Rodrigo Simões Miranda.
“O modelo SAF é uma oportunidade única para o futebol capixaba evoluir. Não se trata apenas de captar recursos, mas de estruturar o clube para ser competitivo e sustentável”, explica Luiz Henrique Martins Ribeiro, advogado especialista em negócios esportivos e um dos consultores do projeto.
Ele ainda faz o alerta de que a transformação em SAF deve ser conduzida com cautela e profissionalismo, pois somente assim a operação poderá ser segura e vantajosa para o clube e seus torcedores.
Impactos imediatos: títulos, finanças e torcida
Desde a transformação, o Rio Branco já colhe frutos significativos. Com o investimento de R$ 2 milhões elevou sua receita em 700% e multiplicou em 20 vezes a folha salarial do futebol. Esses recursos permitiram melhorar a estrutura do elenco e a contratação de jogadores de destaque. O clube conquistou os Campeonatos Capixabas de 2024 e 2025, reafirmando sua condição de potência estadual.
A torcida acompanha esse crescimento com entusiasmo. A média de público no estádio Kleber Andrade aumentou 934% — saindo de um público médio de 473 pagantes por jogo, para uma média de 1.624 pagantes por partida — e revelando um resgate da paixão e confiança no clube. As vendas de camisas também dispararam, com expectativa de superar 10 mil unidades em 2025.
Renato Antunes, enfatizou a importância do projeto para o futebol capixaba, trazendo de volta o sentimento de pertencimento aos times do estado.
“As pessoas se identificam com projetos sérios. E o Rio Branco se transformou em uma SAF com gestão profissional. O futebol tem um grande poder de causar impacto na economia de um estado, além de fazer o seu povo criar conexões com sua identidade. As empresas e os torcedores já entenderam isso. Temos o objetivo de transformar o futebol capixaba através do Rio Branco, e a economia do Espírito Santo através do futebol. O capixaba sempre gostou de futebol, o que não existia antes era um bom produto. É o que estamos construindo”, comentou.
A transição para o modelo de clube-empresa vem acompanhada de uma reestruturação administrativa e de investimentos em categorias de base, infraestrutura e contratações. A intenção da gestão é tornar o Rio Branco não apenas vitorioso, mas também financeiramente sustentável, abrindo caminho para a volta ao protagonismo no cenário nacional.
Infraestrutura
Um dos compromissos da SAF Capa-Preta é a construção de um Centro de Treinamento. Até o momento, o clube conversa com prefeituras da Grande Vitória e avalia os melhores terrenos para a construção. A expectativa é que no próximo ano o tema ganhe força nos bastidores do clube, que planeja entregar as obras em torno de cinco anos.
“Na fase zero em 2024, quando assumimos o clube, o objetivo era ter estrutura mínima para que a gente conseguisse performar nesse meio tempo. Então, trouxemos a estrutura básica. Nesses quatro ou cinco anos, até a gente conseguir entregar esse projeto, precisamos ter uma estrutura condizente com os nossos projetos esportivos”, completou Antunes.
Enquanto isso, a gestão capa-preta realiza melhorias no atual local de trabalho diário do clube. No Bairro de Fátima, na Serra, o clube da Associação Recreativa e Esportiva Tubarão (AERT) recebe treinamentos do profissional e Sub-20 do Rio Branco-ES. O projeto da diretoria é que a evolução do atual CT seja feita em fases. Dessa forma, com o gramado revitalizado, também foram realizadas mudanças na estrutura geral dos equipamentos utilizados pelo clube.
Parcerias e inovações no mercado
O sucesso esportivo e o crescimento financeiro possibilitaram ao Rio Branco firmar parcerias de peso. Ao fim da temporada 2024, a diretoria capa-preta avançou em negociações importantes, que levaram o nome do clube para o território nacional. Foi assim com Bruno Silva (ex-Botafogo), Fernando Henrique (ex-Fluminense), no acerto com Kappa (nova fornecedora de materiais) e Zé Delivery (patrocinadora).
“Tudo isso acontece porque a gente teve sucesso esportivo no primeiro ano. É isso que atrai grandes parceiros, que antes não olhavam para o futebol capixaba”, opina o CEO.
Em 2025, o Capa-Preta fechou um acordo com o hub de casas de apostas Blackbox até o fim de 2026. A partir de agora, a empresa vai estampar sua marca no espaço mais nobre do uniforme capa-preta, além de estar presente em ações antes dos jogos com o clube e sua torcida, promoções de eventos e divulgação. O investimento pode chegar a R$ 4 milhões, sendo o maior valor de patrocínio já aplicado em um time de futebol do Espírito Santo.
Outra novidade é o modelo de negócio para a exibição do patrocinador. Com a parceria, o Rio Branco vai exibir marcas de forma rotativa em seu espaço master. Desta forma, além da própria Blackbox, outras empresas farão parte do negócio, e de maneira periódica vão se revezar no patrocínio da camisa.
“Este modelo é inédito no futebol brasileiro e vai permitir que as empresas aumentem sua visibilidade e potencial de alcance, além de tornar a camisa capa-preta ainda mais valorizada”, concluiu o CEO do Rio Branco SAF.
Apesar do Rio Branco ser o único clube capixaba com a SAF assinada e oficializada, a Desportiva Ferroviária vive há pouco mais de um ano a expectativa de também se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol. Em abril de 2024, o modelo de gestão já havia sido aprovado em Assembleia Geral Extraordinária, após a proposta vinculante de R$ 116 milhões, por 90% das ações, ter recebido a assinatura necessária.
Após votação que aprovou a mudança no estatuto da Desportiva Ferroviária, clube associativo e investidores não se alinharam corretamente nos detalhes finais. Houve erro na entrega da documentação decisiva. Dessa forma, o prazo de 120 dias para a finalização do processo de Constituição da SAF foi superado, o que pede um reinício da diligência. Em contato diário com associação e equipe jurídica do clube, a SAF deve ser constituída até o mês de julho.
