Teatros da Grande Vitória: cortinas abertas ou não?

O drama das peças teatrais ganha forma na vida real e atravessa a conservação dos equipamentos culturais.

Merda! Muita merda a todos os teatros! E, calma que “merda” significa boa sorte no mundo das artes cênicas. Acontece que nos primeiros teatros, o público costumava chegar de carroça, charrete ou cavalo. Assim, significava que quanto mais sujas as ruas ficavam com fezes dos animais, maior o público e o sucesso da apresentação — daí o “merda”. Mas, ao que tudo indica, as ruas de Vitória andam bem limpinhas, figurativamente falando, é claro. O Theatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória, está fechado desde 2017 para reformas. As obras, no entanto, foram paralisadas durante a pandemia por questões sanitárias e retomadas em 2023. O projeto, agora, tem previsão de entrega para dezembro de 2025, de acordo com o secretário de cultura Fabrício Noronha em entrevista para a jornalista Renata Rasseli. A reforma é promovida pelo Governo do Estado, com um investimento de R$ 20 milhões, provenientes dos parceiros EDP e BNDES, captados por meio da Lei Rouanet. O Instituto Modus Vivendi também é parceiro do projeto.

Algo semelhante aconteceu com o Centro Cultural Carmélia, que também passou por paradas e retomadas nas obras. Além disso, a gestão do espaço foi transferida da Prefeitura de Vitória para a União e, posteriormente, para o Governo do Estado. Agora, o Carmelão está em reforma, com previsão de funcionamento para março de 2026. Ainda em Vitória, outro espaço vem chamando a atenção pelo longo tempo parado: o Teatro do Centro de Artes (ou Auditório do Centro de Artes), na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). 

As obras deste local sequer foram concluídas, e estima-se que o projeto esteja paralisado há mais de uma década. O principal motivo do abandono são os processos licitatórios fracassados, já que as empresas contratadas não conseguem atender aos critérios da universidade ou desistem da obra, uma situação que se arrasta por anos. Larissa Zanin, coordenadora do Centro de Artes, explicou que entrou na Universidade em 2010 e que a obra já enfrentava problemas. 

Segundo ela, o processo começou com uma empresa que havia sido selecionada por licitação, que abandonou o projeto devido a dificuldades, o que resultou em uma ação judicial. Em seguida, outra empresa assumiu a obra, mas também desistiu, e o processo foi novamente judicializado. Contudo, assim como nos outros casos, há esperança. 

Uma nova licitação foi feita com o apoio do Programa de Aceleração do Crescimento das Universidades (PAC das Universidades), que garante um orçamento de R$5.452.793,71. Até o momento da apuração desta reportagem, o processo licitatório continuava em andamento e, segundo fontes da universidade, a contratação de uma nova empresa para executar a obra está próxima de ser concluída.

 Resistência e novas perspectivas 

Pelo menos na capital, ainda há espaços teatrais em funcionamento. Um dos destaques é o Teatro Universitário da UFES, que, atualmente, é o maior e o mais bem  equipado do Estado, com capacidade para 600 pessoas. O teatro recebe diversas apresentações, principalmente de grupos nacionais, além de concursos de dança, premiações e cerimônias de colação de grau.

A reivindicação por um novo espaço, como o Teatro do Centro de Artes, também surge de um apelo da comunidade interna da universidade, que poderia centralizar suas demandas no teatro menor, no caso, o do Centro de Artes.“Se tivéssemos esse espaço, poderíamos estar, por exemplo, fomentando mostras culturais, já que não precisaríamos nos preocupar com a estrutura. Teríamos outro espaço para promover festivais de teatro, mostras culturais, oficinas de formação e até para os grupos de teatro ensaiarem”, defende Letícia de Sá, estudante universitária, atriz e militante do movimento estudantil.

Outros espaços também resistem, como o Teatro do Sesc Glória e o Palácio Sônia Cabral, ambos localizados no centro de Vitória. Embora ainda tenham uma programação modesta e voltada para nichos específicos, são hoje algumas das opções mais acessíveis, com apresentações gratuitas ou a preços justos. Além disso, o Teatro Sesi e o Teatro Campaneli se consolidaram como boas alternativas para quem deseja consumir teatro na Grande Vitória, com programações também mais específicas e voltadas para públicos distintos — no caso do Campaneli, para o público infantil. No geral, o cenário é, positivo. Dos oito teatros mencionados, cinco estão em funcionamento (Teatro Universitário, Teatro do Sesc Glória, Palácio Sônia Cabral, Teatro Sesi e Teatro Campaneli), dois estão em reformas (Teatro Carlos Gomes e Centro Cultural Carmélia), e um está em processo licitatório (Teatro do Centro de Artes). Agora, resta torcer para que as cortinas se abram cada vez mais e para um público cada vez maior.

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

Contato