Polarização política marca nova Câmara de Vitória

Partidos de direita e esquerda ampliam representação e embates ideológicos prometem marcar os próximos quatro anos

A nova legislatura da Câmara Municipal de Vitória começou sob forte polarização política. Com o aumento de 15 para 21 cadeiras, a diversidade ideológica cresceu, tornando o plenário um reflexo da divisão nacional entre direita e esquerda. Enquanto conservadores ganham espaço e reforçam pautas alinhadas ao bolsonarismo, setores progressistas ampliam sua atuação, prometendo embates intensos ao longo dos próximos quatro anos.

A nova configuração do Legislativo municipal levanta questionamentos sobre como será a relação com o Executivo e se a polarização ideológica permitirá avanços em políticas públicas. Entre os desafios dos mandatos, está a necessidade de equilibrar debates ideológicos com as demandas concretas da população.

Novas cadeiras mudam o cenário político

A ampliação do número de vereadores trouxe novos atores à cena política de Vitória. Com um quadro mais diverso, a Casa agora possui maior representatividade de grupos que antes tinham pouca ou nenhuma voz no Legislativo. Entre os partidos com maior número de cadeiras, estão Republicanos, PSB e PP, cada um com três representantes. O Republicanos, legenda do prefeito reeleito Lorenzo Pazolini, fortalece sua base aliada e pode garantir governabilidade ao Executivo. Já o PSB e o PP reúnem nomes que transitam entre o centro e a esquerda, mas que devem atuar de forma independente em determinadas pautas.

A polarização, no entanto, não se dá apenas entre siglas, mas entre perfis políticos bem definidos: de um lado, há um fortalecimento do bloco conservador, alinhado a pautas como armamento civil, combate a agendas progressistas (como a pauta LGBTI+) e defesa de valores cristãos. Do outro, grupos de esquerda mantêm sua força, com foco na defesa de direitos humanos, políticas de inclusão social e combate à desigualdade.

Direita consolida bancada

Os setores mais alinhados à direita cresceram nesta legislatura e agora contam com uma bancada que promete barrar propostas progressistas. Entre os nomes que simbolizam esse avanço, está Davi Esmael (Republicanos), vereador reeleito que, com grande intervenção nas redes sociais, se consolidou como um dos principais defensores das pautas conservadoras na cidade.

A chegada de vereadores do Partido Liberal, representando o “bolsonarismo raiz” na Câmara, também fortalece esse campo. Entre eles, Dárcio Bracarense (PL) e Armandinho Fontoura (PL) entram na Câmara com um discurso pautado na defesa da família tradicional e no combate ao que chamam de “ideologia de esquerda” nas políticas públicas.

Com esse crescimento, a extrema direita passa a ter mais força para pautar discussões e tensionar com a Prefeitura em temas como segurança pública e redução de políticas sociais.

Esquerda promete resistência

Do outro lado do espectro político, a esquerda mantém sua relevância e amplia seu espaço na Câmara. A bancada de esquerda é formada por vereadores do PT, PSOL e PSB, que tem se destacado por articular uma agenda focada em políticas públicas de inclusão, juventude e justiça social. 

Do PT, Karla Coser se reelegeu como vereadora mais votada. Professor Jocelino trouxe mais um nome para a bancada na última eleição. Pelo Psol, Ana Paula Rocha,também eleita em 2024, se soma aos dois petistas para formar a bancada da esquerda.

Os três têm defendido medidas para ampliar o acesso a serviços essenciais nas comunidades e utilizado sua representação no espaço legislativo para promover debates sobre direitos civis e minorias .Vereadores do PSOL e do PT já sinalizaram que atuarão fortemente contra retrocessos em direitos sociais e que continuarão a denunciar casos de violência política, especialmente contra mulheres e minorias. A expectativa é que temas como igualdade racial, direitos LGBTQIA+ e políticas de inclusão e cultura retornem ao centro dos debates, ainda que enfrentem maior resistência.

A atuação progressista na Casa nos últimos anos da  Vereadora Karla Coser (PT) já havia enfrentado desafios, com episódios de violência política, por meio de discursos agressivos e tentativas de silenciamento. Agora, com uma Câmara com mais representantes desse espectro político, os embates devem ser ainda mais intensos, exigindo do bloco de esquerda estratégias para garantir a defesa de suas pautas.

 No PSB, Bruno Malias e Pedro Trés reforçam pautas relacionadas à saúde, educação e transparência na gestão, posicionando a bancada, apelidada de “Bloco Democrático” em referência ao contraponto a iniciativas conservadoras.

O tom da nova legislatura

Se havia dúvidas sobre como seria o tom da nova legislatura, elas foram dissipadas logo nas primeiras sessões ocorridas a partir de 1º de fevereiro,quando começou a nova legislatura. Discussões sobre homenagens a figuras políticas, projetos relacionados à segurança pública e mudanças em políticas sociais já deixaram claro que a polarização será uma marca constante nos próximos quatro anos. Uma das primeiras disputas ocorreu quando vereadores da direita sugeriram a concessão de uma honraria a uma personalidade ligada ao bolsonarismo, gerando protestos da oposição. Em outro momento, um projeto para ampliar a presença da Guarda Municipal em escolas de ensino fundamental dividiu opiniões, com conservadores defendendo a medida como forma de segurança, e progressistas alertando para o risco de militarização do ambiente escolar.

Além disso, já é possível notar as provocações nas redes sociais, como no embate entre o vereador Davi Esmael e o vereador Professor Jocelino no Instagram, em vídeo de cortes de uma das sessões da casa. A discussão ocorreu após o petista utilizar o termo “escurecer” em vez de “esclarecer” – uma adaptação linguística que é utilizada pelo movimento negro.

Os desafios da nova Câmara

O grande desafio desta legislatura será encontrar um equilíbrio entre a polarização política e a necessidade de governabilidade. Se, por um lado, o Executivo conta com uma base mais robusta para aprovar projetos, por outro, o embate ideológico pode gerar dificuldades na construção de consensos. O presidente da Câmara, Anderson Goggi (PP), terá o principal papel na condução dos trabalhos e na mediação de conflitos. Com trânsito entre diferentes grupos, ele pode ser um fator moderador ou, caso opte por alinhar-se a um dos blocos, pode aprofundar ainda mais a divisão. Para a população, resta a expectativa de que, apesar das divergências políticas, os vereadores mantenham o compromisso com o interesse público e garantam que as discussões no Legislativo resultem em melhorias concretas para a cidade.

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

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