De passeio turístico concorrido a local abandonado: o adeus da estação ferroviária de Viana
Até o ano de 2015, ainda era possível ver o trem passar no município de Viana. Turistas do Espírito Santo e de diversas partes do Brasil que visitavam a sede do município de Viana embarcavam no trem em direção às montanhas capixabas. Atualmente, esse passeio turístico que saía em direção a Marechal Floriano, não está mais em operação, assim como as atividades da estação. Em contrapartida, surge o projeto de uma nova linha ferroviária para ligar o Espírito Santo ao Rio de Janeiro – a EF 118, que está sendo discutida com grupos empresariais interessados.
Mas voltemos ao começo da vida da personagem principal. A Estação Ferroviária de Viana, que também já foi chamada de Jabaeté, nasceu em 12 de julho de 1895. Ela integrava, junto de outros 10 municípios capixabas, a grande família denominada Ferrovia Centro-Atlântica, mais conhecida como FCA. A via era gerenciada pela Companhia Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo. Era o tempo em que se esperava para ouvir a buzina do trem avisando suas chegadas e partidas. Seus vagões acomodavam mercadorias e passageiros.
Em 1992, aos 97 anos de idade, a ferrovia recebeu uma grande festa: era a inauguração do passeio pelas montanhas. Antes, realizava somente longas viagens, agora receberia também um breve passeio turístico. O então Governador de seu Estado, Albuíno Azeredo, foi um convidado especial, além de outras importantes personalidades da região, como a prefeita Maria Pimentel e o secretário municipal de turismo da época. A comemoração foi um sucesso, com direito até a jantar em um dos vagões do trem. Visitantes de outros estados enfrentavam fila de espera de meses para conseguir um ingresso para o passeio. Apesar do êxito, essa jornada foi interrompida devido à mudança da gestão municipal.
Após décadas de trabalho para o governo transportando cargas e passageiros, ela foi privatizada. Foi concedida e comprada pela empresa VLI, em 1996. Seus novos responsáveis não a trataram muito bem; deixaram-na de lado. Aos poucos, a saudosa estação Jabaeté teve suas operações reduzidas até parar completamente. Ela e suas outras 10 irmãs capixabas tiveram o mesmo destino: o abandono.

Começaria, então, uma história marcada de esperanças e desesperos para a carinhosamente chamada e apelidada aqui de FerroVia(na). Em 2009, por meio de uma união de forças de seus antigos conhecidos, os governos do município e estado implementaram novamente o passeio turístico pelas montanhas. Com início na já conhecida estação, passava por Domingos Martins e finalizava a excursão em Marechal Floriano. Foi um sucesso, como fora no passado. Mas, novamente, suas atividades foram pausadas sem qualquer explicação para seus demais companheiros da cidade.
Uma expectativa surge da parte de todos quando uma Maria Fumaça que participou da 2ª Guerra Mundial é adquirida em 2006 pela Prefeitura de Viana. Os reparos na sua estrutura e maquinário perduraram até 2019. O sonho aumenta após a fala do secretário da cultura de Viana, Leodir Porto: já tendo sido finalizadas as melhorias, o plano agora era colocar o transporte em funcionamento e oferecer um passeio de aproximadamente 8km Viana adentro. Além de tudo isso, a estação, agora reformada, também seria palco de eventos para promover a cultura regional. Mas tudo não passou de sonho.
Prestes a completar 130 anos, os planos para a antiga conhecida estação de Viana são desconhecidos por seus vizinhos até hoje e pouco divulgados pela atual gestora, a Prefeitura do município. Sobre as intenções para a Ferrovia, a atual secretária da cultura do município informou que alguns projetos da pasta ainda estão em finalização e “seriam amplamente divulgados em momento oportuno”. Quando exatamente é este momento oportuno? Não se sabe. Mas por ironia do destino, os preparativos para o carnaval na cidade estão a todo vapor – e o CarnaViana é divulgado desde janeiro. O barulho da folia abafaria o apito dos trens?
A tempo de ser incluído neste relato, a Prefeitura de Viana, que deveria zelar pela nossa protagonista, informou que a Estação está enfrentando “obras de restauro para abrigar um projeto gastronômico”. O intuito é integrar o município à Rota do Polo Cervejeiro. Veja só, mais uma ironia: destruir os trilhos para integrar-se a uma rota. Isso mesmo, um local com tantos enredos, um patrimônio histórico e carregado de identidade se tornará um comércio gastronômico. Moradores se perguntam se valeria a pena acabar com o passeio para satisfazer a fome.
Em 2025, as vizinhas da Estação rememoram velhos tempos e lamentam os atuais. Selma Rocha tem 72 anos, é advogada e mora próximo da estação há 46 anos. Ela lembra da ferrovia movimentada e da exibição de peças antigas no museu ferroviário – foi o começo do fim da estação, que aos poucos foi desfalecendo até não ser nada. Rita Dias tem 69 anos e mora junto da irmã, Selma. Sobre o estado atual da ferrovia, afirma ser uma paisagem de tristeza e desolação em toda sua extensão, com seus trilhos abandonados.
Simone Franco, 62, é moradora antiga de Viana. Ela chegou a fazer o passeio de trem nas montanhas em 2010 e achou “muito bom”. Relembra de como o local era cheio de turistas, visitas de escolas, fotógrafos clicando noivas e imagens para capas de cds… Simone conta que os moradores ainda não compreendem o fim do passeio turístico e não sabem ao certo o que se passa por trás dos tapumes de construção da prefeitura. Por fim, ela reúne todos seus sentimentos em uma única frase: “Viana tá morrendo”.