Diferença de preços entre supermercados e pequenos comércios

Por que os pequenos comerciantes vendem mais caro: a dinâmica da desigualdade econômica

A diferença de preços entre grandes supermercados e pequenos comércios bairristas é uma realidade que intriga muitos consumidores. Um pacote de arroz de dois  quilos, que custa nove  reais no supermercado, pode custar 15 reais ou mais no comércio local. Demais itens básicos, como macarrão, feijão ou qualquer outro alimento facilmente encontrado tanto em mercearias, distribuidoras , quanto em franquias de varejo seguem a mesma tendência. Mas, o que explica essa diferença?

Os grandes supermercados possuem uma vantagem significativa: o volume de compras. Como explica o Economista e ex-presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Ricardo Paixão, essas redes conseguem negociar diretamente com fabricantes e fornecedores, garantindo contratos de longo prazo e preços mais baixos por unidade. Esse ganho de escala permite que os supermercados repassem custos menores ao consumidor final.

Já os pequenos comerciantes, como o dono do mercadinho Teresa em Goiabeiras, Eli Felipe, enfrentam desafios diferentes. “Ao contrário dos supermercados, não tenho fornecedores diretos, ou seja, não compro diretamente de fabricantes ou grandes distribuidores. Compro em atacadistas e revendo aqui. Além disso, preciso incluir os custos de transporte e logística”, explica. Esses custos, somados a gastos operacionais, como aluguel e energia elétrica, manifestam-se em uma margem de lucro maior por produto, o que os torna inevitavelmente mais caros.

Um dos fatores que explica a diferença entre as margens de lucro aplicadas é o volume de vendas. Supermercados atraem um amplo número de clientes e conseguem lucrar com pequenas margens, pois vendem sempre em grande quantidade. Nos bairros, a realidade é oposta: “Mesmo com preços altos, vendemos pouco. Um pacote de arroz que custa 15 reais na minha loja pode custar 11 reais no supermercado, mas enquanto eles vendem centenas, eu vendo no máximo dez por mês”, pontua Eli.

Mesmo custando mais aos consumidores, os pequenos comércios têm um papel indispensável na economia local, oferecendo uma praticidade e proximidade que não é encontrada em grandes redes. Como destaca Ricardo Paixão, apesar da baixa competitividade, os negócios de bairro sustentam-se por promover uma relação de confiança e conveniência com os moradores. “É possível comprar fiado, ou resolver uma emergência sem precisar se deslocar até o supermercado. Essa proximidade é algo único dos comércios de bairro”, ressalta o economista. 

Dona Cida, moradora de Goiabeiras, também reconhece esse valor. Embora prefira fazer compras em supermercados para economizar, em situações de urgência – quando, por exemplo, falta sal ou açúcar em casa – ela recorre às lojas do bairro onde mora. “É caro, mas é perto e resolve na hora”, comenta.

Segundo Paixão, entender a diferença entre os dois modelos de negócio é essencial para buscar soluções que fortaleçam o comércio local, sem comprometer o acesso a produtos baratos. Uma maneira para aumentar a competitividade dos pequenos varejos seria a cooperação com iniciativas que oferecem capacitação aos empreendedores, que carecem muitas vezes  de conhecimento técnico para gerenciar os negócios. Um exemplo são as empresas juniores de universidades, organizações formadas por estudantes universitários que aplicam na prática o que aprendem em sala de aula. Essas empresas podem oferecer consultorias gratuitas em áreas como precificação, gestão financeira e planejamento estratégico. Ajudando pequenos empreendedores a estruturar seus negócios de forma mais eficiente. Outro caminho seria incentivar cooperativas e parcerias entre comerciantes para compras em grupo, reduzindo custos.

A Primeira Mão é uma revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo, totalmente desenvolvida por estudantes, sob orientação de professores. Além de sua versão em PDF, a partir de 2024, a revista também conta com uma versão digital, ampliando seu alcance e acessibilidade. Em 2013, a Primeira Mão foi uma das cinco finalistas da região Sudeste para o prêmio Expocom de melhor revista-laboratório impresso.

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