Preocupadas em acompanhar a educação dos filhos de perto, mães passam a tomar mais iniciativas para ter seu próprio negócio. “Ser mãe não é fácil”, frase que todo filho já escutou e que toda mãe já disse pelo menos uma vez. Mães não são apenas mães, elas também são médicas, terapeutas, cabeleireiras, cozinheiras e muito mais. E, a cada ano que passa, as mães vêm participando mais do mercado de empreendedorismo. É o que aponta o estudo de Empreendedorismo Feminino, realizado pelo Sebrae de 2023, que revela que 67% das mulheres empreendedoras do Brasil são mães. Afinal, o ramo oferece diversas vantagens, como renda extra e mais tempo para passar com os filhos, entre vários outros motivos que levam as pessoas a empreenderem. Essa é a realidade de Cenita Guerra, de 57 anos, que começou a empreender quando sua primeira filha nasceu, há 33 anos. Na época, ela saiu do seu trabalho formal para cuidar da bebê, mas ainda precisava fazer algo para gerar uma  renda para a família. Foi assim que Cenita se deparou com a possibilidade de empreender, e passou a vender roupas de crianças quando levava e buscava sua filha, Thaiany, na creche. Assim, conseguia  mais tempo para conciliar as funções de mãe, dona de casa e trabalhadora, enquanto o marido trabalhava fora de casa. Cenita em um de seus primeiros empreendimentos A empreendedora fez questão de passar o máximo de tempo possível com seus filhos, para oferecer uma infância à qual ela não teve acesso. “Fui criada sem meus pais, e não queria que meus filhos fossem criados longe de mim”, explica. Mesmo trabalhando fora, sua prioridade sempre foi passar tempo com sua família. Empreender possibilita maior flexibilidade de horários, por exemplo, o que facilita a vida de mães que apresentam essa necessidade. “O empreendedorismo, muitas vezes, é uma alternativa às barreiras impostas pelo mercado formal”, comenta Suzana Fernandes Sanches, gestora estadual do Sebrae Delas – programa que visa  aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres. No mundo corporativo, a estrutura rígida de horários e a falta de suporte para a maternidade afastam muitas mulheres, que encontram no empreendedorismo uma saída. Apesar de ter sido beneficiada em sua vida pessoal por ter se tornado empreendedora, Cenita sofreu muito preconceito por ser uma mãe nesse ramo. “Quando você fala que é a dona, as pessoas perguntam se eu não deveria estar em casa cuidando dos meus filhos”, conta, destacando que, na verdade, é possível fazer os dois. Ela também aponta que quando as pessoas entram no estabelecimento sempre se referem ao marido dela, que passou a trabalhar na cantina depois que se aposentou. Por isso, há a necessidade de apoiar mulheres e mães que entram no empreendedorismo. O Sebrae Delas, por exemplo, é uma iniciativa que busca destacar a importância da presença feminina no empreendedorismo, gerando soluções inovadoras e novas maneiras de resolução de problemas. No entanto, Suzana destaca que isso não é suficiente: é vital apoiar o empreendedorismo feminino e materno não apenas pela perspectiva dos negócios, mas para que haja mudanças estruturais e desenvolvimento social. “Mulheres, como qualquer indivíduo, têm o direito de buscar realização profissional, sem que suas escolhas sejam limitadas por expectativas de gênero ou estereótipos”, critica a gestora Além da venda de roupas infantis, Cenita já foi dona de quiosque na praia, de pastelaria e de cantina, onde trabalha até hoje. O empreendedorismo é uma alternativa que permite a promoção da autonomia da mulher; em contrapartida, quem empreende também precisa lidar com a instabilidade e suas diversas variáveis. Muitas vezes, Cenita teve que se adaptar e mudar totalmente de vida para continuar recebendo. “Eu me desdobrava, mas dava conta”, destaca. Algumas vezes, ela precisava levar os filhos para o local de trabalho, quando não tinha onde deixá-los. Mesmo sendo dona dos empreendimentos, ela ainda precisava cumprir um horário fixo. Ao mesmo tempo que trabalhava, precisava garantir que os filhos ficassem comportados e que fizessem os deveres de casa. Às vezes as crianças até ajudavam no trabalho. O trabalho de mãe nunca para. Em 2020,  no contexto da pandemia da Covid-19, Cenita precisou fechar suas cantina e inovar novamente. Desta vez, contou com a ajuda da família para fazer comidas e vender pela internet. Fazia pizza, açaí, bolos e muito mais. O marido fazia as entregas, o filho administrava a página da internet e uma das filhas atendia os clientes. “A família toda se uniu nesse empreendimento”, cita. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Cenita, ela afirma que tudo valeu a pena, e que foi empreendendo que conseguiu fazer parte da infância de seus filhos, algo que sempre sonhou. Mesmo sendo mãe, dona de casa e empreendedora ao mesmo tempo, ela conseguiu um horário mais flexível que facilitava a realização de todas essas dificuldades. O empreendedorismo uniu a família, e isso é o mais importante para uma mãe. Cenita, seu marido e seus filhos: Thaiana, Thielly, Gabryel e Gabriella